A cidade e o rio, por Werney Serafini

Werney Serafini - principalO curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual Paulista (UNESP), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), investigou em cidades do interior paulista, a relação mantida com rios, córregos e outros cursos d’agua. O objetivo, saber como eles são percebidos e considerados pelos gestores municipais, Planos Diretores e projetos aprovados nas Câmaras de Vereadores.

O resultado foi um diagnóstico com conclusões das mais diversas. Algumas cidades preservam a identidade dos seus rios, conservando características naturais, sem degradação ambiental. Outras os tratam com mínimo impacto, permitindo que a população desfrute de parques lineares, construídos ao longo das margens. Constatou, também, que muitas, apesar de estabelecerem diretrizes para preservação e conservação, não às consideram e a quase totalidade dos cursos de água está degradada, assoreada ou poluída por esgoto domiciliar.

A maioria canalizou trechos dos rios e córregos, razão pela qual, em períodos de chuvas intensas, sofrem enchentes e inundações. Essas canalizações foram consideradas o maior problema, pois seguiram modelos adotados na cidade de São Paulo e, agora, amargam as consequências.

Com os parques lineares e a vegetação das margens dos rios conservada, há uma sensível diminuição das enchentes, pois contribuem para o equilíbrio hídrico. A existência dos parques evita que as áreas ribeirinhas sejam invadidas e degradadas.

Chamou atenção que os rios, apesar de serem componentes importantes na história das cidades, em geral são pouco valorizados pela população e acabam não fazendo parte do cotidiano local.

Verificou, também, uma inadequação nos modelos de gestão urbana, com a falta de integração entre os dispositivos existentes na legislação municipal ambiental e urbanística. Para que os rios fossem percebidos e valorizados positivamente seriam necessárias ações de conscientização, amparadas por projetos participativos que qualifiquem os lugares, muito mais do que a simples aprovação de leis, decretos portarias e regulamentos.

Positivo foi constatar que o esgoto doméstico é previamente tratado antes de lançado nos rios, diferente do que acontece na maioria das cidades brasileiras.

Diagnósticos semelhantes deveriam ser feitos em todas as cidades brasileiras, especialmente nas vocacionadas ao turismo com apelo às águas, marinhas ou fluviais.

Em Itapoá, rios como o Medanha, foram desviados do curso original para possibilitar a implantação de empreendimentos imobiliários. Parte significativa do leito manilhada, canalizando águas fluviais contaminadas por efluentes de esgoto doméstico. Outra parte permanece a céu aberto, desaguando no mar, comprometendo a qualidade da água, na praia mais concorrida do balneário.

O Saí-Mirim, o principal rio da cidade, que atravessa o município em paralelo ao mar, e é o manancial para o abastecimento de água, gradativamente sofre os impactos da urbanização que, além de invadir suas margens, é depositário das valas de drenagem, muitas contaminadas por dejetos residenciais.

Isso sem levar em consideração a infinidade de pequenos córregos totalmente canalizados, muitos dos quais não se têm sequer lembrança, pois foram enclausurados no subsolo.

Paradoxalmente, as leis do município estabelecem diretrizes para a conservação dos rios, inclusive mais restritivas que as da legislação estadual e federal.

A Lei Orgânica Municipal, no Capítulo II, da Política Urbana, estabelece garantias à preservação, à proteção e à recuperação do meio ambiente, bem como, a utilização racional do território e dos recursos naturais, mediante controle da implantação e incentivo ao funcionamento das atividades turísticas, industriais, comerciais, residenciais e viárias. No Capítulo IV, do Meio Ambiente, obriga proteger a fauna, a flora, as margens dos rios, manguezais e praias, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco a sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade. Considera áreas nativas de valor histórico, ambiental e paisagístico e de prevenção permanente a Mata Atlântica, os ecossistemas da orla marítima e a mata ciliar dos rios Jaguaruna, Braço do Norte, Saí-Mirim e Saí-Guaçu.

Necessário se faz trazer a legislação para a prática. Transcender a formalização de leis, decretos, regulamentos e posturas, e materializar projeto participativo que qualifique ambientalmente a cidade. Dar início à criação e implantação de Unidades de Conservação envolvendo as margens do rio Sai Mirim, por exemplo.

Com a palavra os gestores e legisladores de Itapoá.

Outono, 2016.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

3 comentários em “A cidade e o rio, por Werney Serafini

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    29 de abril de 2016 em 23:24
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    Wernei imagens do Google Eart de 2005/2006 comprovam a vegetação nativa e mata ciiar intactas e em 2007 com o desmatamento ocorrido.Portanto ainda fica minha dúvida sobre o posicionamento da ADEA sobre este assunto.

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    26 de abril de 2016 em 21:51
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    Boa noite Wernei, com a palavra Conrado Schneider Jr, Gestor da Secretaria de Meio Ambiente, apontar problemas gerados e responsabilizar os gestores é realmente cômodo,mais a responsabilidade rambiental é de todos.Wernei em 2007 participei de um curso aplicado de educação ambiental na Fazenda Machado (Reserva Volta Velha) aplicado pela Adea-no qual o presidente era a sua pessoa, procedendo palestras de educação ambiental para municipes e crianças da rede municipal e estadual do município, palestras estas subsidiadas com recursos do FUNCULTURAL através de projeto apresentado pela ADEA.Porém a ADEA presenciou todo o desmatamento da mata ciliar da beira do Rio Saí Mirim para plantação de Palmeiras Real ( arvore exótica) para fins comerciais,dentro da mesma propriedade a qual ela aplicava as pelestras e cursos de educação ambiental.Portanto Wernei deixo aqui minha pergunta:Por que a ADEA não denunciou o desmatamento?Com a palavra gestores da ADEA.A responsabilidade tem que ser de todos

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      27 de abril de 2016 em 15:56
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      Senhor Secretário,
      Agradeço a manifestação sobre meu artigo e a oportunidade para esclarecer seus questionamentos.
      Estamos de acordo: o cuidado com o meio ambiente é responsabilidade de todos os cidadãos e, especialmente dos gestores públicos.
      A ADEA, da qual fui Presidente e atualmente 1º Secretário, frequentemente tem se manifestado sobre a necessidade de preservação da mata ciliar às margens do Saí Mirim, com ênfase em PROGRAMAS de educação ambiental desenvolvidos na Reserva Volta Velha e na gestão compartilhada da RPPN Fazenda Palmital.
      Cabe esclarecer que o desmatamento a que se refere, a margem do rio Sai Mirim na Fazenda Santa Clara, conhecida também como Fazenda Machado, ocorreu a mais de três décadas, antecedendo a atuação da Adea em Itapoá.
      Ciente do fato e, por minha recomendação, quando da implantação do Porto de Itapoá, para mitigação da supressão de vegetação nativa na área portuária, o proprietário da Fazenda Santa Clara, cedeu área equivalente na margem do Sai Mirim, onde o porto cumprindo determinação do IBAMA procedeu ao plantio de espécies nativas para reposição da mata ciliar. Por se tratar de Área de Preservação Permanente, não são plantadas palmeiras e espécies exóticas no local.
      Na revisão do Plano Diretor, a ADEA representando as entidades ambientais de Itapoá (Fundação Pró-Itapoá e Vida Preservada) no CONCIDADE, formalizou proposta para a criação de Unidade de Conservação, envolvendo as margens do rio Saí Mirim, além da criação de legislação para estimulo a criação de Unidades de Conservação Municipais.
      Portanto, na medida das limitações e possibilidades, procuramos fazer a nossa parte.

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