
“Costa do encanto ou do desencanto?”, por Werney Serafini

São recorrentes as críticas sobre a precariedade das estruturas urbanas de Itapoá, especialmente quando se trata de turismo. Questiona-se o insuficiente investimento público e a falta de projetos integrados dos governos municipal, estadual e federal para o desenvolvimento da atividade turística nas cidades balneárias do litoral norte de Santa Catarina.
Apesar do sentimento de desencanto, vale insistir num projeto elaborado há vários anos e que poderá revitalizar o turismo na Babitonga.
Foi concebido para dotar os balneários do entorno da baía com infraestrutura necessária para o turismo, transformando-os em importante destino, tal o terminal portuário que tornou Itapoá destino internacional de navios mercantes.
Na primeira administração Sperandio, imaginou-se o chamado “Caminho do Encanto”: um roteiro que, iniciando no Portal da Serra da Graciosa, na BR-116, passaria pelos municípios do litoral paranaense (Morretes, Antonina, Paranaguá, Pontal do Paraná, Matinhos, Caiobá e Guaratuba) chegaria a Itapoá e, na sequência, a Joinville e São Francisco do Sul. Percorreria a malha rodoviária já existente, pavimentada em quase toda extensão e com cenários naturais de grande apelo turístico. Depois de Institucionalizado, uma ampla campanha de divulgação nas mídias seria feita, com os custos rateados entre os municípios participantes. Infelizmente, não foi adiante, “morreu na casca”, por assim dizer.
A ideia ganhou corpo no primeiro governo Luiz Henrique da Silveira, como resultado da descentralização administrativa do Governo de Santa Catarina. Foram criadas Secretarias de Desenvolvimento Regional (SDRs), Comitês Temáticos (CTs) e Conselhos de Desenvolvimento Regional (CDRs) para analisar, discutir e deliberar democraticamente, ações e investimentos do Estado nas diferentes regionais. Cada Secretaria Regional elaboraria uma proposta, denominada “Projeto Meu Lugar”, contemplando necessidades e interesses comuns aos municípios de cada região. Aprovado pelo Conselho, teria prioridade nas ações e investimentos do governo estadual. Luiz Henrique da Silveira, quando prefeito de Joinville, conheceu a proposta de Itapoá e sugeriu que a recém-criada 23ª Secretaria Regional a adotasse como o “Projeto Meu Lugar”.
Elaborou-se projeto estruturante de roteiro que passaria pelos municípios do litoral norte de Santa Catarina, iniciando na BR 101, em Garuva, seguindo para Itapoá, São Francisco do Sul, via Vila da Glória, demandando para Joinville, Barra do Sul, Barra Velha, Araquari e São João do Itaperiú. Para viabilizá-lo, seria pavimentado e revitalizado o antigo caminho. Surgia assim, o embrião do que deveria ser a “Costa do Encanto”.
No Conselho de Desenvolvimento Regional, foi aprovado por unanimidade. O projeto trouxe alento às comunidades da Babitonga, face à perspectiva de se desenvolverem sustentadamente pelo turismo, em região assim vocacionada.
Das medidas, a prioridade seria a estrada, notadamente o trecho entre Itapoá, São Francisco do Sul e Joinville, via Vila da Glória, interligando o Paraná e Santa Catarina pelo litoral, e oferecendo uma alternativa para a BR-101, congestionada nas temporadas de verão.
No entanto, pouco, quase nada, foi concretizado: alguns quilômetros na malha urbana de Itapoá, outro tanto na Vila da Glória e o acesso a Joinville pela Vigorelli. O trecho Itapoá-Vila da Gloria ficou como que o “elo perdido” entre os três municípios. Nas justificativas, como sempre, as dificuldades impostas pelos licenciamentos ambientais para alguns desnecessários e recursos não disponíveis. Questões que deveriam ser minimamente previstas no planejamento, principalmente no que toca às condicionantes ambientais em região de grande relevância natural.
A Costa do Encanto foi tema de campanha política estadual em muitos municípios e, seguramente em Itapoá, foi um dos motivos para a reeleição do então governador e ex-prefeito de Joinville.
No segundo governo Luiz Henrique da Silveira, a Secretaria de Infraestrutura garantiu ao Conselho de Desenvolvimento Regional que a estrada, no trecho da Vila da Glória e na ligação com Itapoá, seria concluída naquela gestão, pois os licenciamentos estavam aprovados e os recursos assegurados através de financiamento externo.
Porém, o segundo governo terminou e o trecho sequer foi iniciado. Surgiu, então, a surpresa: a prometida e esperada ligação entre Itapoá e Vila da Glória dependeria ainda de um “projeto de engenharia”. Portanto, a Costa do Encanto estaria sujeita as prioridades do novo governo.
À época, justificou-se que um projeto dessa envergadura não era tarefa simples. Os investimentos são vultosos, os recursos escassos e as prioridades sujeitas a interesses políticos.
Como explicar aos municípios do oeste catarinense, a construção de uma estrada turística no litoral norte de Santa Catarina, quando muitos deles necessitavam das ligações com a malha rodoviária do Estado. Politicamente difícil, talvez tanto quanto para explicar aos municípios litorâneos, a opção de não a fazer.
O novo governo Raimundo Colombo, em pronunciamento no Conselho, reafirmou que o trecho Vila da Glória-Itapoá seria executado naquela gestão. Porém, não foi e continuou no compasso de espera. Isso que a Costa do Encanto foi prioridade definida há mais de 15 anos!
Difícil não é só explicar, mas entender como um projeto dessa abrangência, discutido, aprovado, definido por unanimidade como prioridade há décadas, não desencanta. Que um governador de dois mandatos, senador da República, mentor da Costa do Encanto; deputados e senadores catarinenses manifestamente comprometidos com o projeto; todos, políticos de longa data, experientes no Legislativo e no Executivo não conseguem articular, nem mesmo politicamente, a inclusão da Costa do Encanto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como tantos outros projetos país afora.
Talvez porque o projeto mudou de nome no governo Raimundo Colombo, sendo rebatizado para “Caminho dos Príncipes”, como consta na desbotada placa sinalizadora existente na SC-416.
E assim, de promessa em promessa, de projeto em projeto, de prioridade em prioridade, o tempo segue, e a cada dia, Itapoá chega mais perto de uma decisiva – para o turismo, é claro – encruzilhada: ou impõe a continuidade da Costa do Encanto, na qual foram empregados expressivos recursos públicos, ou ficará ao sabor dos interesses pontuais, com o risco de vir a ser um grande entreposto portuário cercado de enormes e desordenados depósitos de contêineres que, aliás, já começaram a invadir as margens do “novo” Caminho dos Príncipes para a Vila da Glória.
A nova administração de Itapoá colocou o tema em pauta, notícia alvissareira. Quem viver verá!
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Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.
Bernardo Augusto Gunther
Parabéns, Werney, mais uma lúcida e contundente colocação, num texto icônico que precisa ser expandido, pensado e repensado, com urgência! Costa do Encanto, já!
2 comments