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“Cultura, Cultura Popular e Cultura de Massa”, por Mutti Kirinus

Existem conceitos básicos que um gestor cultural precisa compreender quando está gerenciando o recurso público. O primeiro são as diversas concepções da palavra “cultura”, e assim, para qual dessas concepções o dinheiro público precisa ser destinado.

“Cultura”, de uma maneira mais ampla e filosófica, pode ser tudo aquilo que tem a mão humana, tudo o que não dá em árvore. Nessa concepção, o recurso público não teria um alvo, e poderia ser empregado em qualquer ação, pois tudo de alguma certa forma, é cultura. Mas não é esse o objetivo do setor cultural público.

A palavra “cultura”, pode se referir também a costume, por exemplo: “é cultural nessa região tirar sesta após o almoço”. Ainda não deve ser esse o alvo dos recursos públicos, muito embora, seja necessário saber diferenciar o que é um simples costume e o que é um objeto cultural de patrimônio imaterial de cultura popular, que trataremos ainda nesta coluna.

A palavra “cultura” pode ser também sinônimo de conhecimento. Uma pessoa culta é alguém que possui um saber privilegiado.

“Cultura”, na sua acepção mais exata para investimentos púbicos, refere-se aos diversos segmentos artísticos consagrados pela história e por suas obras. Ainda sem diferenciar cultura popular e erudita, pois muitas vezes o que é erudito hoje foi popular um dia. A permanência no tempo é a grande medida para avaliar se um objeto é digno de investimento pelo setor cultural ou não.

A permanência no tempo é justamente o que difere a cultura de massa da cultura popular. Câmara Cascudo cita três características para reconhecer o que é cultura popular: o anonimato, a divulgação e a antiguidade. Dessas três características, a cultura de massa, uma música da moda, por exemplo, só tem a divulgação. Essa, inclusive, dada pela atual possibilidade da comunicação de massa com muito dinheiro investido em propaganda. Apesar desta música estar na boca do povo, ela não necessariamente é uma representante da cultura popular. Por isso, não mereceria, diante do acima exposto, o investimento da Administração Pública pelo setor cultural.

Já o carnaval de rua remonta, pelo menos, há mais de 100 anos no Brasil, e tem origem histórica deste tipo de festividade há milênios na Europa. Este, sim, é um objeto de investimento de recurso público, assim como o ensino de todas as artes, e outras manifestações que, sem este recurso, tendem à extinção.

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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