“Maria Farinha”, por Werney Serafini

Ao rever antigos escritos, deparei-me com um artigo inspirado na surpresa da arquiteta e paisagista Andrea Choma ao encontrar, na lavanderia de sua casa, um guaruçá. Ocorrência incomum, porque ao que se sabe, ele vive nas areias da praia.

O guaruçá é um caranguejo tido como siri, branquelo e olhudo, muito comum na praia, conhecido por “Maria Farinha”.

Ao pesquisar, soube que o guaruçá ou “Maria Farinha” é um caranguejo e não siri, com a ressalva de que todo siri também é um caranguejo. Siri é o nome popular dado aos membros da “Portunidae”, uma das muitas famílias de caranguejos. Pertencem a um grupo maior de crustáceos, os “decápodes”, cuja principal característica é possuírem dez patas, das quais oito são utilizadas para a locomoção e duas frontais para apanhar comida, escavar e se defender.

A “Maria Farinha” (“Ocypode spp”) é, pois, um caranguejo com carapaça quadrada e coloração branco-amarelada, de onde sobressaem os olhos bem desenvolvidos, através dos quais ela localiza a sua toca. Vive em praias arenosas, escondendo-se em buracos escavados acima da linha da maré alta e no limite extremo da praia, onde a vegetação se instala. Constrói a toca com as garras dianteiras, usadas como escavadeiras, transportando para longe, a areia retirada.

As tocas podem alcançar mais de um metro de profundidade e têm o formato de um “jota”.

De hábitos noturnos, a “Maria Farinha” é um animal detritívoro, nome dado em biologia para aqueles que se alimentam de restos orgânicos, tanto plantas quanto animais mortos.

Como tem coloração semelhante à da areia, não é percebida com facilidade. Esse mimetismo, que é a capacidade de camuflagem que algumas espécies de animais possuem, confere proteção, ajudando-a se livrar dos predadores.

Uma das mais importantes características da espécie é que sua presença em determinadas praias é indicativo seguro de que o local está limpo e despoluído.

São conhecidas por diversos nomes como “Caranguejo-fantasma”, “Espia maré”, “Caranguejo-da-areia”, “Siri-branco”, “Caranguejo-branco-da-areia” e, em Itapoá, como “Caranguejo-espia-moça”, por ficar escondido na toca espreitando as moças bonitas na areia.

O que não encontrei na pesquisa foi o motivo da “Maria Farinha” estar longe da praia, na lavanderia da casa da Andrea. Seria pela erosão costeira que está levando a areia da praia?

Foi inevitável não fazer um gancho com o filme do inigualável Hitchcock, “Os Pássaros (The Birds – 1963)”, em que pacificas gaivotas, inexplicavelmente, invadem uma pequena cidade litorânea dos Estados Unidos, expulsando agressivamente os seus habitantes.

Felizmente, foi mera imaginação, pois as “Marias Farinhas”, além de não agressivas, logo terão as areias da praia devolvidas com o “engordamento” previsto da orla. Assim esperamos.

Itapoá, (Inverno), agosto de 2024.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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