“Diversidade Cultural na Capital da Música”, por Mutti Kirinus

O título recebido de capital da música pode trazer benefícios ou não. Enquanto título é apenas um nome. Mas se esse título traz mais recursos para a cultura, estaduais ou federais, ele é um benéfico. Caso contrário, pode levar a uma tendência dos investimentos municipais, ou vindos de outras fontes, serem investidos apenas ou prioritariamente nesse segmento, que é só um dos muitos segmentos artísticos com necessidade de investimento e fomento.

Outro ponto que pode ser negativo é o fato de que um título sem o mérito pode ser usado como instrumento de demagogia. Vejo muita gente se gabar de estar na capital da música, mas é fato que em comparação com outras cidades catarinenses, Itapoá está muito longe de ser a cidade mais importante no setor musical do estado. Ouvi de um músico atuante que se sentia orgulhoso de ser músico na capital da música, mas na época, e ainda hoje, as condições de viver da música não tinham melhorado significativamente. É o ópio do povo, como nos tempos de crise econômica e social ficar feliz pela seleção brasileira ter conquistado mais um título. Se isso é capaz de iludir um trabalhador da arte, pode ainda mais iludir a grande maioria da população que não faz a menor ideia do que seja este trabalho e suas dificuldades, ou seja, somos a capital da música, sinal que aqui se investe em arte e cultura. Não digo que não haja investimentos no setor, mas ainda está muito aquém do ideal, e muito atrás de muitas outras cidades. O cidadão comum vai se orgulhar de algo que não é verdadeiro e isso vai amenizar a insatisfação geral, ludibriando a conscientização política para o setor cultural e diante de outros setores também. Pode inclusive diminuir o apoio popular e da sociedade civil para reivindicações culturais, ora eles já vivem na capital da música, o que querem mais, sendo que o título é só um nome que deputados sem medidas mais importantes pra votar deram para a cidade a pedido político de alguém.

Talvez um ponto positivo seja que, sendo a capital da música, nossos governantes se sintam na obrigação de fazer algo pela mesma, e temos diversas ações louváveis no setor. Mas voltamos mais uma vez para o problema da diversidade dos segmentos artísticos que serão negligenciados por isso. Temos a música e o artesanato como segmentos artísticos fortes na cidade, e por serem mais fortes e atuantes recebem maior apoio. Mas eles são mais fortes e atuantes porque recebem apoio e investimentos, ou recebem apoio e investimentos porque são fortes e atuantes? Caímos aqui na rede da antinomia da causa e efeito da Crítica à Razão Pura de Kant, ou mais popularmente, na eterna dúvida de quem veio primeiro, o ovo ou a galinha.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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