“A proteção dos mananciais”, por Werney Serafini

Em março passado, comemorou-se o Dia Internacional das Águas, data instituída para celebrar a importância desse recurso ambiental, essencial para a manutenção da vida e da sobrevivência humana.

Sabe-se e não é de hoje, que os rios têm sido impactados. Neles são lançados dejetos de toda espécie comprometendo a qualidade das águas. No entanto, pouco se sabe sobre o que é feito com as áreas de mananciais, fundamentais para a continuidade dos rios.

As áreas de mananciais, assim como os manguezais, são denominadas áreas úmidas. Os manguezais além de armazenar água servem de habitat para diversas espécies de peixes, aves, mamíferos e invertebrados. Produzem vida que serve como fonte de alimento para outros seres vivos, estabelecendo uma cadeia alimentar para as espécies que neles habitam, além da fauna e flora de ecossistemas próximos.

As áreas úmidas são celebradas no mês que antecede do Dia Internacional das Águas, e foram definidas como tal em tratado internacional em que o Brasil é parte, a Convenção de Ramsar.

As áreas úmidas armazenam a água que abastece os mananciais de captação, como o Rio Saí Mirim em Itapoá. Sem elas, não seria possível obter água para suprir as necessidades básicas da população.

A sociedade industrial focada no consumo de massa, está habituada a receber água diretamente das torneiras. Ao precisar, basta girar o registro e a água surge em abundancia. Praticamente, pouco importa a origem dessa água e como ela chegou.

No entanto, para diversas populações, algumas ameaçadas, conhecidas por populações tradicionais, importa muito o local de onde provém  a água que consomem. Esses locais são considerados sagrados e protegidos por essas comunidades. Para a grande maioria da população essa relação sagrada com as fontes de água  inexiste e pouco importa a qualidade do recurso, desde que esteja disponível limpa e em condições de potabilidade.

Esse olhar distante das fontes de água, permite que as áreas úmidas sejam substituídas por loteamentos urbanos e industriais, ou transformadas em áreas agrícolas, geralmente para monoculturas destinadas à exportação, como soja, milho, cana de açúcar e outros. Estima-se que cerca de 50% das áreas úmidas do planeta foram destruídas nos últimos cem anos. Cederam lugar a empreendimentos concentradores de riqueza para pequenas minorias.

Entretanto, quilômetros de canos não podem simplesmente separar  as pessoas das fontes de água. Talvez seja impossível resgatar o sagrado que existe nestes locais, mas isso não impede que as áreas úmidas e as nascentes sejam cuidadas, preservadas e protegidas.

As usuais e pontuais atividades de educação ambiental são importantes instrumentos para sensibilizar as pessoas, especialmente os jovens nas comunidades escolares.

Todavia, ações estruturantes de caráter permanente, como a proposição da ADEA para a implantação do Memorial das Águas de Itapoá, deveriam ser prioridade da administração pública e apoiada pelo operador privado do sistema de captação e tratamento d’água, focada na conservação do Rio Saí Mirim,  extremamente sensível ao crescimento exponencial do município.

Itapoá (Inverno), junho de 2023.

Avatar

Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Deixe seu comentário via Facebook