“Imunização de Massa”, por Mutti Kirinus
Em tempos que a situação sanitária está a ponto de colapsar a saúde pública, o desejo de uma imunização de massa é unânime. No entanto, uma outra imunização é fonte complicadora da situação e contribuiu muito para a trágica situação atual. É a imunização contra a alteridade, imunização contra o outro, contra o próximo, ou seja, a falta de relação, compromissos e comprometimento com os outros.
Roberto Esposito, seguindo a corrente da filosofia política que tenta compreender como foi possível o genocídio histórico do nazismo e fascismo, assim como o seu ressurgimento com diversos nomes, desenvolveu este conceito de imunização presente na sociedade moderna para tentar explicar tal fato lastimável.
Vários fatores concorrem para essa imunização em relação ao outro e cuidados com ele e com a própria rede de relações. Entre elas são: a delegação de responsabilidades e poderes pelo que se conhece em filosofia política como contrato social; a divisão do trabalho e a falta de visão da relação com o todo; supervalorização apenas do conhecimento compartimentalizado da técnica e ciência; a venda pessoal da força de trabalho e sua desigual relação com o capital gerado; afastamento da filosofia, das artes e princípios universais; etc.
Nesse sentido, aquela falta e empatia evidenciada nas redes sociais com apoio a ideais fascistas e excludentes, mesmo que potencializada pela manipulação tecnológica de dados e distribuição de fakes direcionadas a um público alvo, teve um campo fértil para frutificar.
O aprendizado de uma atividade artística, de qualquer segmento, nunca é algo pontual e desconexo. A prática em conjunto das mesmas, mesmo de modo remoto, é uma experiência interrelacional valiosa e conecta com o outro, além de gerar uma sensibilidade humana imprescindível para qualquer relação. A reflexão filosófica nos conecta com o todo social, princípios universais e com a essência do sentido da palavra ética e política.
Nesse sentido, uma doença social anterior à pandemia já estava instalada e permitiu que um vírus acéfalo exterminasse uma quantidade enorme da humanidade que é capaz de ir à lua, mas não conseguem assumir individualmente a responsabilidade de cuidar do próximo como a si mesmo.
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