“Cultura e Educação”, por Mutti Kirinus

Em uma defesa da cultura contra sua criminalização, o pianista e maestro Alberto Heller utilizou uma afirmação certeira, não se pode pensar Cultura desvinculada da Educação. De fato, além dos conhecimentos e técnicas de cada segmento artístico, percebe-se em quem estuda e pratica uma arte, um acréscimo cultural e histórico considerável que eleva o nível de consciência, percepção e cidadania dos mesmos. Mesmo quem apenas mantém um vínculo com as artes através da contemplação estética recebe este acréscimo.

Um vídeo bem-humorado do ator Gregório Duvivier simula a manutenção de uma cidade totalmente de princípios extremistas e fundamentalistas e que aderia cegamente aos decretos do governo. Para isso, era necessária uma espécie de descontextualizador para manter e promover essa adesão cega e absoluta. Ora, o descontextualizador tinha a função justamente de retirar as afirmações do seu contexto histórico, cultural e científico, para assim poderem afirmar qualquer coisa sobre qualquer assunto. Ou seja, a manipulação tem seu fundamento na falta de conhecimento e interpretação histórica que deveriam ser a prioridade de nossa educação.

Ora, o estudo ou contemplação das artes, da filosofia, conhecimento e leitura de obras literárias, e reflexões sobre cultura têm justamente o papel contrário do descontextulizador e promove, assim, ao contrário de uma adesão cega, uma consciência crítica, ingrediente imprescindível para uma sociedade plena e justa.

O número de aulas reduzido de história da arte, filosofia e literatura no currículo escolar, voltado para uma formação meramente instrumental do indivíduo, tem o mesmo objetivo descontextualizador e promove um distanciamento do universo integrador das artes. Desse modo, o indivíduo, inclusive os que se tornam artistas, sai com uma formação instrumental da escola e precisam reaprender fundamentos necessários para manter a sua arte como ler e interpretar textos nem sempre simples de editais, escrever projetos, analisar a conjuntura para traçar caminhos de manutenção de sua arte, etc.

Mas, de uma coisa, temos uma certeza: quanto mais atividades artísticas e culturais acontecerem em nossa cidade, mais estaremos elevando o nível da educação que recebemos e, assim, da consciência humanística tão necessária para a vida em sociedade. Renné Descartes, através de uma só certeza, inaugurou uma mudança radical na história do pensamento e da humanidade. Podemos iniciar então desde já uma mudança em nossa própria história, promovendo e participando das atividades culturais do nosso município.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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