Sem solução, solucionado está, por Werney Serafini
O cão foi o primeiro animal selvagem domesticado pelo homem. Ao aproximar-se das comunidades primitivas em busca de restos de alimentos, foi integrado aos humanos. Assumiu o papel de guardião, alertando sobre a aproximação de predadores. Coadjuvante nas caçadas e companheiro fiel, transformou-se em um quase semelhante. Com o tempo perdeu o instinto selvagem, virou bicho de estimação. Adquiriu direitos e proteção legal, ganhou “cidadania”.
Em Itapoá são muitos e de todos os tipos. Alguns, resultado de indecifráveis miscigenações. Entre eles, os “com donos” e os “sem donos”, muitos perambulando pelas ruas da cidade.
Os “sem donos”, marginalizados, abandonados à própria sorte. Magros, sarnentos e doentes, reviram lixeiras na busca da sobrevivência. Alguns foram “esquecidos” no final da temporada e vão se multiplicando em progressão geométrica.
São tantos que, de tempo em tempo, ocupam o noticiário. E com grande audiência, basta observar a quantidade de postagens nas redes sociais. Reclamações e cobranças feitas à administração pública.
Mas, o que fazer com eles? A pergunta é recorrente.
Recolhê-los a um canil? Castrá-los para conter a proliferação descontrolada? Repassar recursos a entidades protetoras para acolher os animais? Assim, tipo canil público terceirizado? Ou como já foi sugerido no Facebook, lotar uma embarcação e “esquecê-los” do outro lado da baía? Criar uma legislação, a exemplo de Xangai, na China, que propôs a “política do cão único”, nos moldes da “política do filho único”, que impôs aos chineses um rigoroso planejamento familiar?
Quando menino, lembro que em Curitiba, o nosso vira-lata, “sem raça definida”, quando nas suas escapadas demorava para retornar, íamos incontinenti ao Canil Municipal, para verificar se a temida “carrocinha” não o tinha recolhido. Ele era “registrado”, – número e nome gravado numa plaqueta na coleira. Era então passível de resgate, mediante o pagamento de multa, uma espécie de fiança. Os sem registro, e os não reclamados, depois de certo tempo, diziam, viravam “sabão” ou “comida de onça” no Passeio Público, o zoológico da cidade. Verdadeiro? Não sei, mas era o que se falava…
Os cães “sem donos”, infelizmente, trazem problemas para as pessoas. Enxotados, agredidos e acuados, às vezes, respondem agressivamente aos maus tratos. Sujeitos a doenças transmissíveis aos humanos, são um problema de saúde pública. Na primavera, andam em matilhas atrás das fêmeas no cio. Como não são vacinados, ao morderem as pessoas, transmitem a raiva e outras zoonoses. Isso não isenta os “com donos”, que soltos, ou descuidados, também geram problemas.
A solução passa a ser de ordem pública, ou seja, responsabilidade da administração da cidade. O fato é que algo precisa ser feito e efetivamente.
Um bom começo, poderá ser o “registro” dos animais “com donos” e regras a serem cumpridas pelos proprietários. O assunto é polêmico, em razão de tantas outras necessidades, mas necessário para a boa convivência na cidade.
O que não dá é “deixar rolar”, fazer de conta que o problema é irrelevante frente as tantas prioridades. Muito menos ficar no discurso ou adotar soluções paliativas que só fazem por prolongar o problema.
Não é demais lembrar o que já aconteceu em Itapoá, quando um morador, descrente da ação do poder público, decidiu, por conta própria, resolver o problema, partindo para uma ação de extermínio dos animais, envenenando-os indiscriminadamente. Confiando na impunidade, por conta própria também, estendeu a medida aos “com dono” e aí… deu no que deu.
Infelizmente, o assunto não se esgota com os cães. Têm os gatos. Menos visíveis, em razão da independência dos felinos em relação aos humanos, mas extremamente danosos à avifauna de Itapoá.
Confesso que, às vezes, meio resignado, fico pensando no que me disse um velho amigo: “problema, sem solução, solucionado está”…
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