Ideia e Ação, Ideal e Real, por Mutti Kirinus

Como ultrapassar o abismo existente entre o que se pensa e o que efetivamente se concretiza? No final das contas, ideia boa é aquela que se realiza.

O conceito de ideologia no seu sentido negativo tem justamente o sentido, é um discurso que não corresponde a ação e serve justamente para mascarar essa falta de coerência entre discurso (pensamento) e ação. Ou, na maioria das vezes, para melhor ludibriar a massa eleitoral, o resultado da ação tem um objetivo contrário ao seu ideal proposto no discurso.

Esse malefício eleitoreiro somente é possível intencionalmente devido a falta de consciência deste abismo. Muito embora a sabedoria popular tenha vários adágios alertando para a existência dele, como por exemplo, ‘de boas intenções o inferno está cheio’; ou ainda ‘falar até papagaio fala’; e ‘papel e discurso aceitam tudo’.

Mas esse abismo, a falta de conhecimento dele e da dificuldade de superação do mesmo, atinge também as boas intenções verdadeiras e sinceras. Estou me referindo às pessoas que não utilizam dele com má fé para benefícios pessoais, mas que realmente não conseguem realizar suas reais, boas e sinceras intenções. Esses seres humanos estão muito presentes principalmente na área da Cultura, mas na verdade todos nós sonhadores desejamos ser realizadores também por acreditar na mudança positiva da sociedade através dessas realizações.

É preciso, para isso, compreender a natureza desses dois elementos do qual todo ser humano bem-intencionado sente-se na obrigação de ser a ponte, o plano ideal e o real. O primeiro, generosamente infinito de possibilidades; o segundo, prepotentemente finito e limitado.

O primeiro passo, importante, mas que é apenas um passo, é dar materialidade oral para uma ideia, ao expô-la a outra pessoa, de preferência àquelas que sabes que serão sinceras contigo. Sua ideia terá um primeiro contato com o mundo externo. Saberás então se sua ideia não é apenas genial para ti, se encontra empatia e ressonância em outras pessoas, e se não é apenas um ser imaginário que tem realidade apenas para si.  Esse ponto parece supérfluo, mas é bem importante, pois sem essa ressonância, provavelmente, terás também dificuldade de conseguir condições ‘meio’ para realização do produto fim.

O segundo passo é dar materialidade escrita para sua ideia, transformá-la em projeto. O que está escrito tem uma materialidade mais fixa do que a oral, e assim, as possíveis contradições ou dificuldades a serem enfrentadas se tornarão mais aparentes.

Para passar do plano ideal para o real, é necessário também transformar a ideia em um objeto, um produto a ser construído materialmente. Tendo primeiramente ele definido, buscar a partir daí, alcançar as condições meios para realizá-lo, entre elas: pessoas que te darão apoio de diferentes maneiras; os profissionais com os conhecimentos técnicos específicos necessários a sua realização; materiais; locais; público-alvo; divulgação; administração; produção; cronograma; e angariação de recursos financeiros.

Este último item é o mais cruel e difícil obstáculo. É importante pesquisar e consultar pessoas que conseguiram ultrapassar esse abismo; se informar sobre os incentivos fiscais à Cultura e outras fontes de patrocínio a projetos culturais e sociais; procurar e conquistar parcerias.

Nesta última coluna cultural do ano, desejo aos colegas leitores e que partilham de sonhos e ideias culturais, que todos eles se realizem no ano que vai nascer, e coloco-me à disposição para auxiliar no que estiver ao meu alcance. Um Feliz 2019.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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