Uma cena sugestiva, por Werney Serafini

Uma foto postada no blog do Miguel Minotto, serviu de inspiração.  Um siri azul suspendendo em suas pinças uma lata vazia de “Skol”. A marca, mero acaso, pois poderia ser de tantas outras, cujas latas são esquecidas ou descartadas, entre as pedras de Itapema.

Como nada ocorre ao acaso, a cena levou a duas interpretações. Uma, hilária: o siri beberrão, seduzido pelo prazer refrescante da “geladíssima” tão alardeada na mídia. Outra, contundente: a indignação do pequeno crustáceo com os “resíduos” deixados na praia durante a temporada de verão. E convenhamos, lixo é o que não falta! Agora, lixeiras em profusão…

O siri azul (Callinectes sapidus) conhecido também por siri-tinga, ou simplesmente siri, é um dos maiores existentes no litoral brasileiro, podendo ter mais de quinze centímetros de envergadura. Vive nas praias, lodosas ou não, tanto nas rasas quanto nas profundas. Costuma adentrar nos riachos que desembocam no mar e é abundante em águas salobras. A fêmea, menor que o macho, para desovar retorna ao mar, onde suas larvas se desenvolvem.

As patas traseiras servem como remos, e são utilizadas para locomoção. As pinças dianteiras se prestam para agarrar os alimentos e também como arma de defesa. A fisgada que dá ao ser provocado é dolorida. Antigamente, as pessoas ao banharem-se em águas repletas de siris, usavam sapatilhas de borracha para se protegerem. Hoje, não se tem visto esses apetrechos, talvez, porque os siris não sejam mais tão abundantes ou agressivos.

É onívoro, ou seja, consome de tudo. Habitualmente, peixes e outros seres do mar. Na verdade, qualquer artigo que possa encontrar, principalmente cadáveres. Por essa razão, é conhecido como um dos garis do mar, o que talvez possa explicar a lida com a lata tão inapropriadamente descartada. Desconheço pesquisas que comprovem sua predileção por líquidos como a cerveja.

Com essas qualificações, demonstradas na inusitada foto, ocorreu-me uma ideia para a próxima temporada, sugestão que tomo a liberdade de compartilhar com os secretários de Meio Ambiente e de Turismo: utilizar a imagem, se o autor concordar é claro, ou outra semelhante, para uma campanha educativa sobre a importância de se manter a praia de Itapoá limpa. Assim do tipo: “Turista, faça como o siri, colabore na limpeza da praia. Não deixe o lixo na areia. Ele agradece.” Enfim, nada que um criativo publicitário não possa melhor desenvolver.

Estou certo de que ele, o siri, dispensará o cachê. A Skol e outras marcas poderiam contribuir na criação e, quem sabe, com os custos da campanha. Uma demonstração efetiva de que se preocupam com o descarte responsável dos seus produtos.

Graças ao versátil personagem, penso sempre no que fazer com a latinha da cerveja, ao consumir uma deliciosa casquinha de siri à beira mar.

Itapoá (primavera), novembro de 2018.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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