
Sobre raposas, por Werney Serafini

A raposa, distraída, caiu num poço. Por mais que tentasse, não conseguia sair do buraco. Já estava desanimada, quando surgiu um bode morto de sede, a procura de água para beber. Ao ver a raposa no fundo do poço, perguntou-lhe se água era boa.
A raposa, percebendo que o bode estava sedento, elogiou a qualidade da água, dizendo que era limpa, saborosa e muito refrescante. Terminou por convencer o bode a descer no poço, angustiado que estava pela sede.
Saciado, quis voltar à superfície e, preocupado, perguntou a raposa como poderia fazer isso.
– Não sei, mas tenho uma ideia que depende mais de você do que de mim, disse a raposa.
– Faremos assim: você põe as patas dianteiras contra a parede e ergue a cabeça o máximo que puder; subo nas tuas costas, dou um pulo e uma vez lá fora, puxo você pelos chifres.
Sem outra ideia, ele fez o que ela disse. Com a ajuda das pernas, das costas e dos chifres do bode, a raposa conseguiu voltar à boca do poço. Porém, ao invés de tirar o bode como prometera, simplesmente foi embora, dizendo-lhe:
– Ah! Meu caro bode, se tivesse tanta inteligência como às barbas que tens no focinho, não teria descido sem antes verificar como voltar.
Moral da história: a prudência recomenda antever um final para tudo o que se pretende fazer.
Na fábula, a raposa é o símbolo da esperteza, persuasão e do individualismo. O bode, enganado, simboliza aqueles que se aventuram por caminhos, sem muita certeza para onde se está indo.
O bode, cego pela sede, acreditou na conversa da raposa, interessada somente em encontrar uma saída para o seu problema, ou seja, sair do buraco em que caíra.
Nem sempre se está apto a antever ou prever as consequências das escolhas e decisões. Por mais comedido que se possa ser não há como evitar todas as consequências. Na história, o bode não refletiu, sequer por um momento, em como sairia do poço, obcecado que estava em saciar a sua sede.
As pessoas em momentos de desespero, descrença ou até indiferença, passam por situações semelhantes e, às vezes, ignoram aquilo que é obvio.
Com um olhar mais atento, o bode talvez percebesse o imbróglio em que se meteu e não teria, simplesmente, descido ao fundo do poço. Muito menos teria dado ouvido à conversa da raposa.
Porém, não teria matado a sede! Como consolação, poder-se-ia dizer que pagou um preço alto pela água que bebeu. Sair do poço passou a ser um novo problema, cuja causa foi acreditar piamente, na conversa da raposa.
Portanto, há que se estar muito atento às raposas das mais diversas matizes, que prometem facilmente solução para todas as demandas e, depois… é outra história… os bodes que se virem.
Itapoá (inverno), setembro de 2018.
*Inspirado numa fábula de Esopo, escritor e poeta grego, nascido no ano de 620 a.C.
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