Uma escola comestível, por Werney Serafini

Uma pequena cidade inglesa produz verduras para toda sua população, – cerca de 17 mil habitantes – durante o ano inteiro e, de graça! A matéria, publicada recentemente, chamou minha atenção.

Tudo começou com um projeto denominado “The Incredible Edible Todmorden” (A incrivelmente comestível Todmorden), que consistiu no cultivo de hortas comunitárias em espaços públicos da cidade. Os vegetais produzidos são disponibilizados para qualquer morador gratuitamente.

São mais de 40 locais espalhados pela cidade, desde floreiras nas ruas, o quintal da delegacia de polícia, jardins públicos, pátios de escolas, centros de saúde e até o cemitério local. Como objetivo incentivar a comunidade a cultivar os seus próprios alimentos e sensibilizar as pessoas sobre os recursos que consomem.

O projeto levou dois anos para “pegar”. Na reunião de apresentação eram apenas seis pessoas. Atualmente, é aceito por grande parte dos moradores e divulgado na comunidade escolar da cidade. A prática da horticultura aproximou as pessoas e melhorou o relacionamento entre vizinhos.

Segundo a coordenação do projeto, as pessoas querem ações positivas nas quais possam se engajar e têm consciência de que o momento requer a responsabilidade de todos para obter qualidade de vida, relacionamento, alimentação saudável e respeito ao meio ambiente.

Transformar espaço público em hortas comunitárias não é tarefa simples. Mas, em Todmorden, o comprometimento dos gestores e a dedicação dos moradores, tornou isso possível.

Ao ler sobre a experiência foi inevitável imaginar algo semelhante em Itapoá. Claro que em consonância com as condições locais. Afinal, não estamos na Inglaterra e não seria possível transformar uma extensa cidade litorânea em horta comunitária. Mas, existem espaços vazios nas escolas. Por que não os aproveitar?

Segundo educadores, a horta escolar tem se mostrado um instrumento eficaz na educação dos jovens, estimulando o hábito da alimentação saudável e equilibrada, bem como o sentido planetário da responsabilidade humana com o meio ambiente.

Algumas escolas de Itapoá desenvolveram ou desenvolvem isoladamente pequenas hortas que poderiam ser multiplicadas e ampliadas.

No entanto, o ‘calcanhar de Aquiles’ desse tipo de projeto está, por assim dizer, na “terceirização” da horta para os alunos e professores. A horticultura, exige conhecimento técnico e dedicação exclusiva para ser produtiva. Não é toda pessoa que está capacitada ou mesmo, aprecie a atividade. O professor tem como foco principal ministrar aulas e não cuidar de hortas. Por essa razão muitos projetos são abandonados e não dão certo.

Talvez, uma proposta alternativa, envolvendo a Secretaria de Educação, Secretaria de Agricultura e o escritório local da Epagri, viabilizasse a ideia. A Secretaria de Educação, cederia o espaço nas escolas e trataria da orientação pedagógica; a Secretaria de Agricultura cuidaria da operacionalização do projeto, custeando um profissional treinado para a formação e manutenção da horta e o escritório da Epagri do fornecimento de mudas e sementes e a necessária orientação técnica.

As hortaliças produzidas seriam fornecidas para a merenda escolar e, o excedente, cedido gratuitamente às famílias dos alunos, proporcionando uma alimentação saudável, baseada no consumo de verduras frescas e sem agrotóxicos.

Quem sabe uma Itapoá comestível…

Itapoá (inverno), agosto de 2018.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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