Novela sem fim, por Werney Serafini
São recorrentes as críticas sobre a precariedade das estruturas urbanas em Itapoá, especialmente quando se trata de turismo. Critica-se o pouco investimento público e a falta de projetos integrados do governo estadual e federal para desenvolvimento da atividade turística.
Na primeira administração do prefeito Ervino Sperandio, imaginou-se um roteiro turístico que, a partir do Portal da Serra da Graciosa, na BR-116, seguiria pelo litoral paranaense (Morretes, Antonina, Paranaguá, Pontal do Paraná, Matinhos, Caiobá e Guaratuba) chegando a Itapoá e, na sequência, a Joinville e São Francisco do Sul. O objetivo, atrair turistas de São Paulo habituados a frequentar as praias catarinenses, incrementar a atividade no litoral paranaense e integrá-lo com Itapoá. A ideia ficou conhecida como “Caminho do Encanto”, mas não foi adiante, ‘morreu na casca’.
Ideia semelhante ganhou corpo no Litoral Norte de Santa Catarina, durante o primeiro governo de Luiz Henrique da Silveira, como resultado da descentralização administrativa. A [então] Secretaria de Desenvolvimento Regional (SDR) – Joinville, inspirada no “Caminho do Encanto” de Itapoá, elaborou projeto estruturante baseado em roteiro turístico, abrangendo os municípios do litoral norte de Santa Catarina. Iniciaria na BR 101, em Garuva, seguiria por Itapoá, São Francisco do Sul, via Vila da Glória, Joinville, Barra do Sul, Barra Velha, Araquari e São João do Itaperiu. Para viabilizá-lo, seria revitalizado e pavimentado um antigo caminho. Surgia então, o “Costa do Encanto”.
Submetido ao Conselho de Desenvolvimento Regional (CDR), foi deliberado por unanimidade pelos conselheiros de todos os municípios. A proposta trouxe alento e otimismo às comunidades do entorno da Babitonga, face a perspectiva de desenvolvimento para uma região vocacionada ao turismo.
Das ações previstas, a prioritária seria a estrada, notadamente o trecho entre Itapoá, São Francisco do Sul e Joinville, via Vila da Glória, que interligaria Paraná e Santa Catarina pelo litoral, uma alternativa para a BR 101, constantemente congestionada no verão.
Infelizmente, pouco, mas muito pouco, quase nada, foi concretizado: alguns quilômetros na malha urbana de Itapoá, outro tanto na Vila da Glória e o acesso a Joinville pela Vigorelli. O trecho Itapoá-Vila da Gloria, permaneceu como um ‘elo perdido’ entre os três municípios.
Nas justificativas, as dificuldades impostas pelos ‘licenciamentos ambientais’ e ‘recursos não disponíveis’. Questões que deveriam ser minimamente consideradas no planejamento prévio, especialmente quanto as condicionantes ambientais imprescindíveis em região de grande relevância natural.
O “Costa do Encanto” continuou na mídia política durante a segunda administração de Luiz Henrique da Silveira. Tema de discurso na campanha estadual em muitos municípios e, seguramente em Itapoá, contribuiu para reeleição do governador e ex-prefeito de Joinville.
Na época, o secretário de Infraestrutura ratificou ao Conselho de Desenvolvimento Regional que a estrada, no trecho da Vila da Glória e na ligação com Itapoá, seria concluída, pois os licenciamentos ambientais estavam aprovados na Fatma [Fundação do Meio Ambiente da Santa Catarina) e os recursos assegurados por financiamento externo.
Ao término do Governo, a surpresa: a ligação entre Itapoá e Vila da Glória dependeria de um ‘projeto de engenharia’. Portanto, o “Costa do Encanto” estaria sujeito as ‘prioridades’ do governo recém-eleito.
O ex-secretário de Infraestrutura, então eleito deputado, justificou-se dizendo que projetos dessa envergadura não são simples. Não se realizam apenas com sonhos ou desejos. Os investimentos são vultosos, os recursos escassos e as prioridades submetidas aos interesses políticos. Como explicar aos municípios do oeste catarinense a construção de uma estrada para ‘turismo’ no litoral de Santa Catarina, quando muitos deles necessitavam de ligações com a malha rodoviária do Estado. Politicamente, muito difícil. Sem dúvida, talvez tanto quanto para explicar aos municípios litorâneos que tem no turismo atividade econômica decisiva, a opção de não o fazer.
O novo governador, Raimundo Colombo, também ratificou na SDR que o trecho Vila da Glória-Itapoá seria construído em sua gestão. Seria, mas não foi. A obra, mal começou, foi embargada pela Justiça, por questões relativas ao licenciamento ambiental do órgão estadual, contestado pelo Ministério Público Federal. Permanece parada e, pelo jeito, ficará suspensa até o término do governo atual.
Difícil não é explicar, mas entender como um projeto dessa abrangência, discutido, aprovado, definido por unanimidade como ‘prioritário’ há mais de quinze anos, não foi em frente. Como, prefeitos de vários cidades, governadores de dois mandatos cada; vereadores, deputados e senadores catarinenses manifestamente comprometidos com o projeto, políticos experientes e articulados, não conseguem concluir um pequeno trecho de estrada.
Assim, de promessa em promessa, de projeto em projeto, de prioridade em prioridade, o tempo segue e a cada dia Itapoá chega mais perto de uma decisiva encruzilhada para o desenvolvimento do turismo: impõe a continuidade do “Costa do Encanto”, na qual foram empregados tempo voluntário de tantas pessoas e significativos recursos públicos ou continuará a sabor dos interesses pontuais, ao risco de se transformar em um grande entreposto portuário cercado de desordenados depósitos de contêineres.
A novela mudou de nome, agora é “Caminho dos Príncipes”… o que pouco importa.
Itapoá (Outono), 2017.
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