“Eu faço parte!” Cultura e Pertencimento, por Mutti Kirinus

Todo indivíduo carrega consigo algo que o identifica como pertencente a um grupo, uma comunidade, um país. Esse sentimento de pertencimento é talvez o de maior importância para o desenvolvimento social. Esse papel foi desempenhado nas primeiras sociedades pela arte e religião, promovendo a união necessária para a superação das necessidades físicas através de uma mistura de contemplação estética (presentes nos ritos em canções, teatro, imagens) e valores simbólicos (presentes nos mitos de criação, histórias e literatura oral). Ou seja, ao contrário do que se prega na ideologia da ‘demonização da cultura’, não é preciso primeiro matar a fome para depois promover atividades socioculturais, e sim, promovê-las para junto com essa evolução social buscar soluções coletivas para sanar as mazelas da sociedade.

E o que faz, então, o Brasil ser brasileiro? Mais do que sua localização é seu aspecto simbólico: sua música, suas cantigas, seus contos populares (literatura oral), sua literatura, suas festas, seus ritos, seus gêneros musicais, seus personagens, seu teatro, seu cinema, seus costumes, seus hinos, etc. Quando se carrega tudo isso consigo, pode-se ser brasileiro em qualquer parte do mundo. O conhecimento da própria cultura, além de favorecer o pertencimento e identidade, também amplia o diálogo entre as diferentes culturas. Desse modo, pode-se falar das características de um ‘Rock’ nacional e não causa espanto saber que o chorinho é muito ouvido e estudado no Japão.

Projetos de formação continuada com a contratação de profissionais qualificados e participação gratuita dos munícipes locais podem gerar esse pertencimento. Projetos que valorizem a cultura e estética brasileira com apresentações musicais de alta qualidade também caminham nesse sentido. Esses, através da transmissão da nossa história e da contemplação estética, nos unem enquanto cidadãos de duas maneiras. A primeira, pela comoção estética presente em toda obra de arte; a segunda, mais ou menos, ao modo dos mitos de criação, pelo resgate da memória do seu surgimento e história. Aliás, as comemorações de aniversários de nascimento e morte de grandes nomes do cenário cultural brasileiro, do dia do choro, semana da arte moderna, dia do samba, são todos modos de fortalecer nossa cultura e pertencimento.

Neste mês de abril, teremos a celebração do nascimento do nosso querido município. Nela, os dois coros da cidade, o adulto e o infantil, patrocinados pelo Porto Itapoá, irão cantar o hino do Município em arranjo para Coral, além de outras canções. Itapoá está mais uma vez de parabéns. Não somente pelo seu aniversário, mas por promover a elevação de nossa identidade através dessa festa e celebração cívica, contendo atrações culturais nascidas em Itapoá. Desse modo, as crianças, os cantores adultos, e todos os presentes terão a oportunidade de, através de sua presença, dizer um uníssono: “Eu faço parte!” Tenho certeza que a Administração Pública e os patrocinadores desses projetos acreditam, assim como eu, que, como dizia Paulo Leminski, “esse negócio de saber exatamente o que a gente é ainda vai acabar nos levando além”!

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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