Meia assombração
Toda cidade tem os seus fantasmas. Umas mais, outras menos, mas todas têm. Itapoá não é exceção e curte os seus. De tempo em tempo, eles vêm assombrar os pacatos itapoaenses.
O mais conhecido é o ‘erosão’ – fantasma do mar. Chegado em areia, costuma abocanhar pedaços da praia e, vez por outra, residências e equipamentos urbanos na beira mar. Tem quem diga que foi exorcizado. Ledo engano, não foi e faz questão de deixar isso bem evidente. Promete trazer dor de cabeça para muita gente.
Outro é o ‘enchente’ – fantasma do rio. Aparece quando chove mais do que o normal. Inunda casas e ruas, causando o maior transtorno. Ultimamente anda quieto. Mas promete incomodar, em protesto ao assoreamento do rio.
O último, – dos conhecidos é claro – não é considerado fantasma. Na categoria, é um morto vivo, zumbi que no verão cheira mal e deposita no mar coliformes de todos os tipos. É o Medanha que, segundo as autoridades, aparece apenas no verão.
O ‘erosão’ andava sumido. Mês passado andou destruindo um deck na beira mar em Itapema. Mas, não convenceu, e a obra foi reconstruída.
Agora, em março, outra aparição, desta vez mais agressiva. Destruiu o deck e de sobra levou pedaços da praia aqui e acolá, notadamente no Pontal.
Fantasma à parte, a erosão não é de hoje. Segundo laudo técnico realizado em 2002 pelo Laboratório de Estudos Costeiros – LECOST – que monitora permanentemente o litoral do Paraná e por extensão o de Itapoá -, vem se agravando desde os anos 1980 e acentuadamente a partir da década de 1990, como decorrência do aprofundamento e dragagem do canal de acesso ao porto de São Francisco do Sul. Hipótese plausível sobre a erosão das praias de Itapoá em que pese o fato de alguns estudos diagnosticarem o contrário.
Na dúvida, muralhas de pedra continuam pontualmente surgindo na praia para proteção do patrimônio público e privado. Iniciativas outras, como o ‘engordamento’ da orla, tão prometidas, estão esquecidas ou engavetadas.
Enquanto isso, o fantasma do mar sob a inspiração da pedra que deu nome à cidade, surge e ressurge ao sabor da maré e dos acontecimentos, assombrando o sono de muita gente.
Desta feita, foi só um aviso, prenúncio de provável aparição nas ressacas do inverno e primavera. Uma meia assombração.
Outono, 2016.
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