“A falta e a reconstrução”, por Fátima Rigoni
Um avião com 58 passageiros e quatro tripulantes, totalizando 62 pessoas a bordo, caiu em um condomínio no bairro Capela, em Vinhedo (SP), no início de uma tarde de sexta-feira, no mês passado, dia 9 de agosto. Não houve sobreviventes. Ouvindo a notícia, sofri pelas mães que perderam seus filhos e filhas, pelas filhas e filhos que perderam suas mães e pelas esposas e maridos que perderam seus companheiros. A ideia e o pensamento de que as pessoas que morreram não estarão mais presentes fisicamente dá a sensação de dor, solidão, perda e falta.
O vínculo físico é interrompido. Nenhuma palavra lida ou ouvida dá conta de confortar e o silêncio é uma companhia desejável.
Do final do ano de 2021 a maio de 2023, isso é, um ano e meio, seis pessoas da minha família, todas muito amadas, morreram. Três dessas pessoas foram meu marido, minha mãe e minha filha. As dores mudam de intensidade, porém são todas dores imensuráveis.
A falta das pessoas, a realidade do luto, a insegurança do futuro, a memória do que aconteceu, entre outras coisas, faz com que nos sintamos inadequados ao mundo. O mundo me parecia mais seguro e feliz antes das perdas. A dor gerada pela morte de uma pessoa amada é considerada uma das experiências mais difíceis de serem superadas, pois rompe-se o vínculo físico, mas nunca o afetivo.
O luto se manifesta por sentimentos de tristeza, culpa, saudades, memórias, entre outros e sempre fica um sentimento de autocensura, por não ter feito mais pelas pessoas enquanto estavam vivas. Assim, distúrbios de sono, apetite, choro e ansiedade são reações presentes por muito tempo e podem durar até anos. Com o passar dos dias, a resiliência e a fé ajudam a compreender as dores, mas não amenizam. No caso da morte da minha filha, tem culpados e a justiça caminha para ser feita, mas na queda do avião, o acidente ainda está sendo investigado. Vamos ficar atentos, pois algo ocorreu, e encontrar respostas ajudará todas as famílias e amigos a entenderem o triste fato.
Enquanto isso não acontece, ofereço minha solidariedade, não só para as famílias do acidente de avião, mas a todas as pessoas que quiserem falar sobre o assunto – a morte da pessoa que amamos e a reconstrução do nosso eu durante o luto. Quando se perde alguém que amamos, morremos um pouco também. Como mãe, tive que renascer para ser mãe dos outros filhos e isso exige muita fé, amor, força e perdão a nós mesmos.
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