“A ‘cultura’ de escrever projetos”, por Mutti Kirinus
Uma das acepções da palavra cultura carrega o significado de costumes. Esses, por sua vez, dependem de um hábito, de uma continuidade. Podemos assim dizer que, comparando com o passado recente, Itapoá está recém-criando uma cultura de escrever projetos culturais.
Essa prática de escrever projetos não depende somente do conhecimento e capacitação para tal. Na minha opinião, depende mais do aumento da oferta de editais ou mecanismos de fomento e, com eles, o aumento da possibilidade e probabilidade de executar aquilo que se investiu tempo e trabalho pra colocar no papel.
No entanto, essa ‘cultura’ leva tempo pra ser construída e solidificada. Em 2015, foi aprovado o primeiro projeto via lei Rouanet na cidade, o projeto do Coral Vozes da Babitonga. Hoje, já temos mais proponentes fazendo uso dessa ferramenta de incentivo à cultura em Itapoá.
A lei Aldir Blanc criou, também, essa oportunidade em muitos municípios, com um edital em 2021; vivemos, recentemente, a inscrição do edital Paulo Gustavo, em 2023; e teremos, a curto prazo, o edital Aldir Blanc 2, provavelmente no início de 2024. Isso motiva os artistas a escreverem seus próprios projetos ou realizarem parcerias para escrevê-los.
É provado que cidades que possuem leis municipais de incentivo à Cultura acabam incentivando essa prática de escrita de projetos que beneficiam a cena cultural, possibilitando maior e melhor investimento público no setor. Essa certeza de ter um edital a cada ano, destinado especificamente para os artistas e fazedores de Cultura do município, aumentando assim a chance de ser contemplado, faz com que o setor crie uma ‘cultura’ de escrever projetos.
Em resumo, a criação de uma lei municipal de Cultura, com investimentos e editais anuais para o fomento da mesma, é o que proporcionará o aumento do interesse e procura na expertise de se escrever e executar projetos culturais. Somente a oferta de cursos de qualificação no setor não é o suficiente, como já aconteceu diversas vezes no município. Nenhum artista, vai dedicar tempo, que sempre é escasso, para qualquer trabalhador, para aprender a tentar concorrer a um edital estadual ou federal que possui poucas vagas para todo um estado ou país. Sendo que este vai concorrer com expertises de cidades que já possuem maior experiencia em projetos culturais, graças as suas leis municipais de incentivo à Cultura. Não que não seja possível emplacar algum projeto nestes editais, como já foram trazidos mais de meia dúzia de vezes, contando apenas os propostos pela Escola Tocando em Frente em edital estadual. Mas este edital não é atrativo para os artistas em geral dependendo da demanda e esforço para se conquistar um prêmio muito disputado.
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