“Artista Cidadão”, por Mutti Kirinus
A colocação do artista na sociedade sempre teve um papel controverso ou no mínimo nebuloso ou instável. O reconhecimento das atividades artísticas enquanto profissão é um deles, devido provavelmente ao fato deste trabalho não corresponder aos modelos de produção mais comuns no sistema econômico moderno e contemporâneo.
É recorrente o fato de se sugerir pagar o trabalho artístico com divulgação, para “mostrar o seu trabalho”, ou em muitos editais se exigir contrapartidas gratuitas para se ter direito a remuneração pela prestação de serviços artísticos, o que não acontece com nenhum outro tipo de prestação de serviço para o setor público.
Essa instabilidade de direitos poder ser um dos motivos de uma dificuldade em mobilização de classe, e não tanto por uma falta de conscientização política, no sentido amplo do termo, já que os artistas por terem uma sensibilidade humanística, teriam na sua maioria uma consciência crítica e inclusiva da sociedade. Ou seja, a superação das dificuldades para a subsistência nas artes e a nebulosidade de direitos e reconhecimento como uma forma de trabalho, dificultam a reunião entre os artistas e trabalhadores da cultura que muitas vezes precisam atuar em outras áreas para garantir o seu sustento.
Muitas vezes, o amor a arte é o motivo que dentro dessas incertezas façam com que artistas se submetam a condições precárias de remuneração.
Diante da situação das artes no contexto desfavorável de se tornar um trabalho seguro e estável, pelos motivos apontados, torna-se urgente que o artista cumpra o seu papel de cidadão, de unir-se em uma classe através de associações, regularize em formas de contratos e reivindique os seus direitos. Uma outra ação importante, é que o artista seja seu próprio produtor e angarie recursos via projetos que possam ser financiados pelas ferrramentas de gestão participativa da cultura, mecenato federal e estadual, e que lute para que sua cidade conquiste o CPF (Conselho, Plano e Fundo) da cultura para que ela esteja inscrita no Sistema Nacional da Cultura e possa receber mais recursos para o setor.
Nesse formato, por mais que o fazer artístico seja o que move todo artista, nos seus mais diversos segmentos, ele vai precisar realizar e cumprir outras funções para continuar vivendo da sua arte e propiciar uma situação mais favorável si mesmo e para a geração de artistas que vem logo após ele.
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