“Crescer e desenvolver”, por Werney Serafini
Segundo estimativa do IBGE, Itapoá é um dos dois municípios catarinenses que dobraram a população em relação ao último recenseamento. Chegamos a 30.700 habitantes, números exponenciais.
Crescimento impulsionado pelo terminal portuário e a recente duplicação da sua capacidade operacional, além das empresas de logística instaladas na área retroportuária. Há que se considerar, também, a liberação da verticalização das construções na orla, o que estimulou significativamente a construção civil e o mercado imobiliário.
A palavra de ordem no município é “crescimento”. Às vezes, com o apêndice “sustentável”. Emprego, renda, bem estar e prosperidade, pacote virtuoso de benefícios proporcionados pelo crescimento da economia.
No entanto, há que se refletir sobre a expressão “crescimento sustentável”, empregada frequentemente como sinônimo de “desenvolvimento”. Sinonímia, muitas vezes contraditória, pois crescimento é um processo quantitativo e desenvolvimento um processo qualitativo e permanente.
Taxas elevadas de crescimento, podem levar a aumentos insustentáveis. Crescer 7% ao ano significa dobrar o tamanho a cada dez anos. Uma cidade crescendo 7% ao ano durante cinquenta anos terá o tamanho multiplicado por 30. Seguramente não haverá espaço e nem recursos para suportar as demandas consequentes.
Lutzenberger, o renomado ambientalista, dizia não entender o porquê da crença de que a economia só será saudável se não parar de crescer, a ponto de ignorar os cálculos exponenciais.
Ensinava que, no mundo dos seres vivos, quando um sistema ultrapassa os limites, inevitavelmente entra em colapso. Uma colônia de pulgões, por exemplo, instalada em um tomateiro, inicialmente seria próspera. Cresceria, 2, 4, 8, 16… 1.000, vezes e, assim, exponencialmente até o momento em que o tomateiro não suportaria tantos pulgões em seus ramos e folhas. Murcharia, morreria, e os pulgões com ele.
A situação da humanidade no planeta não é diferente. A população aumenta quantitativamente num ritmo que significaria duplicar a cada 35 anos, ou seja, um contingente de 20 bilhões de pessoas em 2062. O consumo, base do modelo econômico globalizado, estimula a crescer indefinidamente. Para Lutzenberger, uma dupla exponencial a exaurir os recursos naturais da Terra. A continuar, a humanidade seria alcançada pelo trágico destino do pulgão.
Controvérsias à parte, crescer não é o mesmo que desenvolver. Crescer é aumentar de tamanho. E, aumentar de tamanho não parece ser mais a melhor solução. Quantitativamente, a humanidade foi longe demais. A civilização industrial globalizada expandiu rapidamente e não é mais possível consumir tanta natureza para fazer riqueza.
Itapoá continuará crescendo. Mais um terminal portuário, ligado a uma das maiores cooperativas do País, confirmou sua presença no município.
Mas, poderá mais do que crescer, desenvolver qualitativamente. Atributos naturais têm de sobra: águas calmas e protegidas; canal de navegação natural excepcional; praias pouco poluídas; areias limpas e águas quentes; remanescentes florestais ainda bem conservados; cenários deslumbrantes; localização geográfica privilegiada, entre tantos outros.
Para desenvolver com qualidade, é preciso levar em conta o conjunto desses atributos. Um em complemento ao outro, cuidadosamente.
O turismo, nas diferentes modalidades, especialmente as relacionadas com a praia e o mar, foi por muito tempo o indutor da economia de Itapoá. Hoje, no discurso desenvolvimentista, ficou reduzido a uma “potencialidade”. Mera “possibilidade” para diversificação da atividade econômica, tal qual, no passado, foi a atividade portuária, a opção para romper a sazonalidade da temporada de verão.
O pensamento de Lutzenberger pode contrariar interesses pontuais, mas faz refletir sobre o crescimento especulativo e descontrolado. Traz em pauta discussões sobre as consequências do que se convencionou chamar de “crescimento sustentável”.
Não é demais, portanto, insistir que sustentabilidade tem a ver com equilíbrio ambiental, social e econômico. “Não é prudente colocar todos os ovos na mesma cesta”, sugere um dito alemão.
Itapoá (verão), fevereiro de 2023.
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