“Cultura, qual o melhor investimento?”, por Mutti Kirinus

É obviamente necessário, quando se depara com a falta de manifestações culturais em uma cidade, ou se pretende aumentar em número e qualidade estas manifestações, promover ações para isto.

No entanto, qual a melhor ação capaz de promover este acréscimo?

Redundante seria dizer que sem o artista não há arte, ou que o artista é quem gera estas manifestações. Vejo muitas gestões administrativas públicas focarem em construir espaços para a cultura antes de promover as ferramentas para o surgimento, a existência, sobrevivência e permanência dos artistas na cidade. Para isto, o alvo precisa ser a sustentabilidade da cultura, a promoção da geração de renda dos que atuam nos diversos segmentos culturais. Isso somente é possível, fazendo os recursos chegarem para quem está na ponta, ou seja, o artista.

Outro erro muito comum é pensar na cultura como espetáculo, como algo pontual. Os espetáculos e eventos são apenas a ponta do iceberg, não se promoverá cultura sem um plano que tenha como prioridade ações continuadas. Ou seja, programas culturais mensais ou semanais que durem o ano todo. Este trabalho é o que se chama de formação de plateia. Uma forma de manter o artista em atividade é também ajudar a formar um público consumidor de cultura.

Promover o ensino das artes com qualidade através de cursos permanentes ou oficinas é também uma formação de plateia. O estudante das artes precisa constantemente se alimentar dela, e também levar o conhecimento de sua história e do tempo necessário para seu desenvolvimento para dentro de sua casa, o que quebra preconceitos e gera respeito e valorização do trabalho artístico profissional.

A aquisição de instrumentos por maior que seja a quantidade ou qualidade dos mesmos, não terá valor algum sem um profissional qualificado para o ensino, fomento e incentivo à sua aprendizagem.

Em resumo, é preciso investir no material humano antes do material físico. Como fazê-lo democraticamente sem excluir ou privilegiar ninguém? Através de editais que tragam recursos para os artistas realizarem suas manifestações artísticas ou cursos gratuitos aumentando o leque das pessoas envolvidas com a arte.

Sem querer parecer repetitivo, pois há mais de quatro anos batemos nesta mesma tecla, Itapoá precisa de uma lei de incentivo à cultura que disponibilize recursos para este material humano produzir, seja através de prêmio via Fundo Municipal da Cultura ou incentivo fiscal na categoria de Mecenato.

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

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