“Cancelando o cancelamento”, por Thiago Gusso
A edição 2021 do BBB (Big Brother Brasil), reality show de grande sucesso exibido pela Rede Globo trouxe à tona um tema que já vinha sendo bastante discutido de uns tempos para cá, mas tomou uma proporção inimaginável com os integrantes da atual edição do programa. Esse tema é a “cultura do cancelamento”.
Também conhecida como cultura do banimento, a cultura do cancelamento é uma forma moderna de ostracismo em que uma pessoa ou grupo é expulsa de uma posição de influência ou fama devido a atitudes consideradas questionáveis, seja online nos meios de comunicação social, no mundo real ou em ambos. Trata-se de uma espécie mais moderna do que conhecemos como boicote. Na cultura do cancelamento, um indivíduo – geralmente, celebridade – que compartilhou uma opinião questionável ou controvérsia na interpretação dos canceladores ou que no passado teve comportamento percebido como ofensivo pelo mesmo grupo nas redes sociais, é cancelado. O foco é ostracizar e afastar essa pessoa de seu público, causando a ela um grave prejuízo de carreira. A base de fãs da celebridade cancelada pode diminuir drasticamente.
Polêmicas à parte, o tema está sempre em voga em debates sobre liberdade de expressão e censura.
O próprio BBB é vítima dessa cultura desenfreada de cancelamento que tomou conta da sociedade. Você que, eventualmente, está lendo este texto de opinião e não gosta ou acredita que não gosta do programa (talvez porque nunca assistiu e se baseia na opinião de sua bolha social), o cancela e estás perdendo boa oportunidade de ampliar suas percepções de mundo através de um experimento social sem igual, do qual é possível inclusive extrair sérias reflexões e até mesmo estudos a respeito do comportamento humano. Tem quem assista apenas por lazer, mas acredito que a edição 2021 não serve tanto para essa finalidade, já que as pessoas estão mais passando raiva do que se divertindo com os acontecimentos.
Desde os primeiros momentos desta edição 2021 do reality show, ficou muito clara a preocupação dos participantes famosos – a casa conta com famosos e anônimos – em relação a seus comportamentos, para que não fossem julgados e cancelados pelo público externo. O problema é que, em parte, esses famosos do BBB21 são justamente pessoas acostumadas a cancelar e nem tanto a serem cancelados. São, em parte, envolvidos com alguma causa, pela qual militam e não raramente cancelam quem pensa diferente. No momento em que entram para participar de um programa como o Big Brother Brasil, eles mostram suas verdades, que nem sempre são compatíveis com aquela imagem que aparentavam ter e que os transformou em ídolos. Nesse momento, a cultura do cancelamento se vira contra eles.
Aparentemente, cientes dessa possibilidade, mas sem contato com o que ocorre aqui fora, no mundo real, os participantes tentam cancelar o próprio cancelamento, agindo de forma não aceitável em relação aos mais variados assuntos, o que para o público soa muito mal. Até o momento, aqueles que têm se colocado como os militantes e autoridades de determinado assunto dentro do BBB, e que como tal, acreditam saber quem deve e não deve ser cancelado dentro do programa, são justamente os que possuem a maior rejeição fora dele. Os participantes cancelados pelos seus colegas de confinamento no BBB21 são, até o momento, os favoritos a vencer o reality na opinião do público externo. Ambos os dados são extraídos de enquetes realizadas pelos mais diversos sites de entretenimento.
Há muito o que se analisar ainda em relação a esse tema, mas as primeiras impressões dão conta de que o papel de cancelador, além de bastante questionável, é perigoso.
Então, cuidado ao cancelar, porque o cancelado pode ser você!
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