Mendanha, rio-zumbi, por Werney Serafini
Mendanha, para quem não sabe, foi um rio. Foi, mas deixou, ou quase deixou de ser. Resiliente, está em estado terminal. Mendanha é um rio-zumbi, morto vivo ou vivo morto, que assombra Itapoá.
Nasce ou nascia, não distante do mar. Segue, não se sabe ao certo, paralelo à linha da costa, entre o rio Saí Mirim e a praia. Desemboca entre as pedras de Itapema do Norte, o cartão postal de Itapoá. Um curso d’agua como tantos que desaguam ou desaguavam no mar.
Os antigos lembram que as suas águas eram limpas e corriam livres para o seu destino. Margens vegetadas protegiam o seu leito. Alguns contam que existiam peixes em suas águas, o que ao olhar de hoje é difícil acreditar.
Seu pecado capital foi ocupar espaços privilegiados no território que abriga a maior concentração populacional de Itapoá. Vítima de interesses diversos, foi obrigado a ceder espaço para a cidade crescer. Não teve escolha e muito menos defesa. Suas margens foram desmatadas, drenadas, loteadas e vendidas. O leito desviado, manilhado e aterrado em muitos dos seus trechos. Tudo sem critério e ao sabor de interesses imobiliários.
Transformaram-no numa vala, um esgoto a céu aberto, sumidouro natural das fossas sépticas do entorno e receptor de dejetos dos mais variados. Compromete a água do mar, tornando-a imprópria para banho na temporada de verão. Seu odor fétido é sentido na principal avenida da cidade.
Mendanha é a triste realidade do paraíso, um rio que não é rio, zumbi morto-vivo no coração de Itapoá.
Deveria, ao menos, servir de alerta para que não surjam mais zumbis na cidade, como o rio Palmeiras, no balneário do mesmo nome, o rio Jaguaruna na área retroportuária ou o rio Saí Mirim, manancial de abastecimento de água da cidade, perda irreparável, proporcional a do falecido rio das Minas Gerais.
Itapoá, (Primavera), dezembro de 2020.
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