Família relata como foi a experiência de ter contraído e se curado da covid-19 em Itapoá
Thayna Martins, de 34 anos; o esposo dela Custodio Soares, de 41, e a filha do casal, Ana Laura Martins Soares, de 7, estão entre as mais de 3,6 milhões de pessoas que contraíram a covid-19 no Brasil. Eles também fazem parte dos mais de 2,7 milhões que já se recuperaram da doença.
A família é proprietária da “Fisiopilates Fisioterapia e Studio de Pilates” em Itapoá, empresa que atua em um ramo de atividade considerado essencial e, por isso, continuou realizando os seus atendimentos mesmo neste período de isolamento social imposto pela pandemia. Thayna explica que não sabe, ao certo, em que momento podem ter contraído o vírus. “Estivemos em contato no trabalho e quando a gente ia para algum lugar, fazer mercado, farmácia. Nossos cuidados eram redobrados”, contou.
A contaminação dos três pelo novo coronavírus começou a ser percebida nos últimos dias 29 e 30 de junho, quando Custodio, que é fisioterapeuta, sentiu um pouco de indisposição, com uma fraca dor de cabeça, e suspendeu todos seus atendimentos, indo buscar atendimento médico. Esses sintomas foram ficando mais fortes e também atingiu a microempresária Thayna dias depois, deixando-os de cama. A pequena Ana Laura permaneceu assintomática.
Justamente na noite do dia 30 de junho, quando Itapoá tinha acabado de ser atingida por um ciclone que fez muitos estragos na região e deixou a cidade muitas horas sem energia elétrica, Custodio teve sintomas de calafrios fortes, mas sem febre (37,3°C). Preocupada, Thayna saiu à noite, com a cidade sem luz, em busca de uma farmácia, onde pretendia comprar azitromicina (antibiótico indicado para o tratamento de diversos tipos de infecção e que tem sido indicado pelos médicos também para auxiliar no tratamento da Covid). Na farmácia, ela foi informada de que tal medicamento não era vendido sem receita médica. O casal, então, preferiu aguardar e buscar atendimento médico no dia seguinte no P.A. de Itapoá devido ao mal tempo. No PA, foram prescritos alguns medicamentos e, pelo tempo de sintomas, não poderia ser realizado o teste rápido. Um dia após a consulta, devido a preocupação por ser profissional de saúde e ter estabelecido contato com algumas pessoas, Custodio foi a Joinville realizar o teste do PCR de forma particular (aquele que muitos reconhecem como o do cotonete no nariz), teste esse que já está sendo realizado nos laboratórios de Itapoá.
No dia 04 de julho, veio o resultado positivo, e a família procurou, por telefone, um médico que atua em Guaratuba (PR), paciente de Pilates e amigo da família que, por Telemedicina, consultou e acrescentou o tratamento a qual foi proposto, visto que positivou o teste. No mesmo dia, Custodio ligou para as autoridades de saúde da Vigilância sanitária, das quais ele tinha contato e a todos os seus pacientes, informando sobre o teste positivo, e pediu para que, caso tivessem qualquer sintoma, procurassem atendimento médico. A partir daí, o casal passou a ser monitorado pelo posto de saúde e pela Vigilância Sanitária, através do telefone. No dia 06 de julho, como Thayna já apresentava os primeiros sintomas da doença, apesar de não estar oficialmente diagnosticada, ela também recebeu a prescrição médica dos medicamentos para a covid.
O casal passou de cinco a seis dias acamado, tomando medicação. “Eu não fiz o exame PCR de imediato. Só ele [Custodio] fez. Como a gente teve contato antes dos sintomas dele, dormimos juntos, eu, com a minha filha e ele, seria impossível que eu não tivesse com o vírus. Foi orientado também o meu isolamento e precritos medicamentos. Também foi marcado para eu realizar o teste rápido ao 10° dia de sintomas. Eu tive um pouco de febre, calafrios, e daí começaram todos os sintomas que ele vinha sentindo, e acabou nós dois sentindo os sintomas no mesmo nível, mesmo patamar”, conta Thayna.
De acordo com o médico que atendeu o casal, Custodio e Thayna desenvolveram a doença apenas no primeiro estágio, o mais leve de três. Os principais sintomas que tiveram foi a febre e calafrios intensos. A microempresária conta que muita gente relaciona os sintomas com os da gripe, mas na visão dela, são bem distintos. “A gente não tossia e não espirrava. Era uma tosse e um espirro muito esporádico. Acredito que eu tossia uma vez no dia, uma vez na noite, e só. Diferente da gripe, porque na gripe, a gente tosse muito, espirra muito, tem muito catarro. A covid não. A sensação da covid é o cansaço. É como se esvaziasse todas as suas forças. Você não tem força para levantar da cama, para fazer uma comida, por exemplo.”, detalha.
Enquanto Thayna e Custodio estavam de cama no processo de cura da doença, Ana Laura não apresentava qualquer sintoma. Apesar de toda a desconfiança devido ao contato próximo com os pais infectados, a confirmação da contaminação por covid-19 por parte da pequena só veio dias depois. “Só que a gente imaginou que ela tivesse tido, porém minha filha ficou assintomática. Ela não sentiu absolutamente nada. Eu e meu marido ficamos nesse período de quarentena trancados dentro de casa, deitados, e ela ‘ferveu’ todos esses dias dentro de casa. Eu fiz um esquema na minha casa: empurrei a mesa de jantar para o lado e tirei tudo o que quebrava, porque com sete anos, graças a Deus, ela tem uma saúde boa, está na ativa. Então, eu instalei colchões pela sala e ela ficava pulando, assistia televisão o dia inteiro. Ela comia bem, brincava com os brinquedos e saia para o lado de fora, para brincar com os cachorros. Então, a minha filha ficou normal”, conta Thayna.
Os pais da pequena, porém, ficaram mal, mesmo só tendo enfrentado o estágio mais leve da doença, possuírem boa saúde e não apresentarem comorbidades. Thayna chegou a ter o pulmão afetado, um pouco de dificuldade para respirar, e precisou também tomar alguns medicamentos específicos, além dos medicamentos que já haviam sido indicados anteriormente. Custodio, por ser fisioterapeuta, conseguiu monitorar a recuperação da esposa, auxiliando-a com a indicação de exercícios respiratórios. Felizmente, Thayna se recuperou bem.
“Tomamos a ivermectina por conta. O médico não a indica. Meu marido tomou duas doses e eu tomei três. Só não tomamos a tal da hidroxiclororquina, porque não achamos. Para o tratamento medicamentoso, o médico só indica a azitromicina e, se tiver algum agravamento, o corticoide”, explica a microempresária, contando que tanto ela quanto o esposo fizeram o tratamento medicamentoso proposto pelos médicos por sete dias, “É importante ressaltar que cada caso clínico de covid tem que ser avaliado por um médico e ele irá prescrever os medicamentos para cada paciente”. Além dos remédios, o repouso total e absoluto foi de extrema importância para recuperação do casal. “Qualquer mínimo esforço que você faz, já sente que o corpo fica mais debilitado”, conta ela. “Faltava o ar até para conversar, como estou conversando com você agora. Eu tenho alguns áudios que mandei para minha família que é de fora e é engraçado eu escutar esses áudios, porque a cada dez palavras eu parava, respirava, expirava, esperava o ar voltar para poder continuar falando”, complementa.
Por fim, Thayna conta que os dois também perderam o olfato e o paladar. “Meu marido diz que o olfato já retornou, mas meu olfato, eu ainda não sinto 100% e já tem mais de um mês que estou curada da doença. Pesquisando alguns casos aí, teve gente que ficou mais de um mês sem o paladar e o olfato. O meu paladar, eu acredito que não esteja aquelas coisas, 100%, mas o que eu não sinto é o olfato. Agora, a gente já está bem. Eu voltei a fazer atividade física, acredito que já estou legal. Eu e meu marido. Minha filha ficou bem”, explica.
“O medo maior é o convívio com os avós [da Ana Laura], o meu sogro e minha sogra, os pais do meu esposo, que os dois têm doenças pré-existentes: ele é diabético, cardíaco e safenado, toma medicações continuas, então a gente imagina mesmo, que Deus o livre, se eles contraem e não consigam aguentar o baque. Porque balança um pouco a cabeça da gente. Não é tão simples assim. A gente vê tanta coisa na televisão e acredita que é moleza, é balela, até acontecer com a gente. Eu não imaginava que fosse realmente tão sério, até acontecer. Graças a Deus, a gente teve muita sorte de não ter sido nada grave, de a gente ter se recuperado tão bem. O que a gente quer passar para as pessoas é que acreditem que a doença existe, que tomem as precauções, os cuidados necessários e cuidem também do antes. Porque antes, a gente passou a tomar mais vitamina, se alimentar um pouco melhor, tomar mais sol. O antes fez muita diferença também”, conclui Thayna Martins.
FOTO: arquivo pessoal / Divulgação. Matéria atualizada às 21h35 de 24/08/2020.
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Muito bom os comentários e alerta. O vírus está aí e temos que cuidar da imunidade. Parabéns pelo trabalho.