“Conhecimento e valorização”, por Mutti Kirinus
Um determinado objeto pode ter diferentes valorações conforme o conhecimento que se possui dele. Por exemplo: um relógio antigo avaliado por alguém que não entende de relógio ou antiguidades pode ganhar um preço bem abaixo do seu preço justo. O contrário também pode ocorrer, um produto através de uma grande campanha de marketing pode custar mais do que realmente vale. O único antídoto para esta espécie de alienação é o conhecimento.
Neste sentido, no âmbito da Cultura, que envolve processos complexos na construção de seus objetos artísticos e culturais, esta falta de conhecimento e distanciamento das artes na sociedade de modo geral, é um fator preocupante. Retornamos sob essa perspectiva ao ciclo vicioso de que a falta de cultura (e do conhecimento sobre sua complexidade inerente assim como sobre seus benefícios) leva a uma desvalorização da mesma e um consequente aumento desta falta.
No entanto, existe a possibilidade do movimento contrário. No segmento da música, por exemplo, quanto maior for o número de pessoas que tenham contato com a longa, difícil e complexa tarefa de aprender um instrumento musical, maior será a valorização do trabalho do músico profissional. Desse modo Projetos de Formação Continuada nos segmentos das artes é um caminho não de produção e formação de novos músicos, mas de valorização do segmento pela sociedade como um todo.
Esta democratização de acesso as artes, e a sua posterior valorização por causa deste acesso e maior conhecimento sobre as mesmas, não surgirá, no entanto, espontaneamente como uma tendência de mercado.
Apesar do ensino das artes ser um produto e serviço que pode ser oferecido comercialmente. A carência em nossa educação e sociedade destes conhecimentos, e da própria história universal, do Brasil, e das artes, não promovem uma procura destes serviços sempre deixados para segundo plano.
Esta aproximação e conhecimento das artes e sua história além da valorização dos profissionais da área evita também que se compre ‘gato por lebre.’ Ou seja, valorizar um produto cultural apenas pelo seu apelo de marketing ou modismo.
Embora exista um consenso geral de que a arte, cultura e educação sejam o caminho de transformação positiva da sociedade, enquanto não houver iniciativas e investimentos diretos neste caminho, seja da iniciativa privada ou pública, a repetição deste discurso de crédito ao seu poder transformador não passará de demagogia. Esta última, a demagogia, fundamentada na distância entre o que se diz e o que se faz, sempre mais barata que o investimento, tem se tornado uma preferência nacional da sociedade brasileira.
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