Sobre a vida, por Werney Serafini
Não escolhemos onde, como e quando queremos nascer. Aconteceu e fomos lançados nesta circunstância que é o mundo. Aqui nascemos, vivemos e morreremos. A vida humana afetada por perspectivas de espaço, tempo e afeto.
Viver é um trajeto dinâmico, vivo, amplo e plural. Pode-se dizer que é um drama, um problema a ser resolvido diariamente. E como todo problema, decisivo é conhecê-lo.
A vida deve ser planejada e, para isso, é preciso um ponto de partida. Antes, porém, as necessidades básicas devem estar resolvidas, o que exige planejamento prático.
Aprende-se a planejar na família. Algumas ensinam com critério, ordem, realismo e rigor pessoal. Outras, deixam as coisas acontecer soltas, desprovidas de ordem, a procura de saídas para os problemas na medida em que surgem, sem um programa de futuro.
Para o indivíduo encontrar a si próprio, é preciso partir de posições realistas, mas, também, envoltas em otimismo e vontade de superação. Conhecer as próprias aptidões e também suas limitações é conhecer a sua geografia e fronteiras.
Decisivo é compreender a complexidade do significado de viver, transitando pelo conjunto interminável de coisas, fatos e acontecimentos que passam pela vida. Na história da humanidade nunca se esteve tão informado, entretanto, percebe-se que a informação recebida não é formativa, ou seja, chega desprovida de conteúdos que ajudem os indivíduos a crescer interiormente, a ser mais completos, sólidos, mais humanos. Como resultado, a sensação de se encontrar perdido, sem respostas para as tantas interrogações existentes.
A vida não pode ser improvisada, precisa ser programada. Significa planejamento prévio, uma filosofia de vida, sustentada por ideias e crenças. Projetos que, na essência, resultam da articulação das diferentes etapas da história pessoal de cada um. Toda biografia é comparável a um grande rio que recebe diversos e diferentes afluentes que aprofundam o seu leito. Assim, a vida vai perfilando, num processo permanente de antecipação, vai-se adiantando a vida para organizá-la e evitar que ela arraste o indivíduo com sua impetuosidade.
No entanto, toda história de vida está repleta de variantes imprevistas. Deve-se cuidar para que essas variantes não sejam tão fortes, a ponto de distorcer ou modificar radicalmente a trajetória proposta, pois o revés pode ser traumatizante, definitivo, obrigando mudanças no rumo pessoal.
Na verdade, vivemos o presente, mas voltado para o futuro. Apoiamo-nos no passado e, no presente em que vivemos, fazemos escolhas que serão o nosso futuro. Vivemos projetos concretos, precisos, realistas, mas não totalmente isentos de ilusão. Para programar a vida, é preciso também de ilusão e de entusiasmo. O futuro nada mais é que uma equação cujas variáveis são o passado e o presente.
Para a compreensão da nossa vida, há que se olhar para ela com profundidade. Verificar a sequência histórica, o sucedido e o acontecido, as motivações, os sucessos e os fracassos, as marcas das alegrias e tristezas, as rupturas, os acertos e os desacertos e por aí afora. Há que se olhar interna e externamente. A primeira é profunda, a segunda superficial. Uma é privada, a outra pública. A distância entre as duas é a mesma que se estabelece entre o verdadeiro e o falso.
No final, não mais importam as aparências, acaba por emergir a realidade do que somos. Qualquer estatística sobre a própria vida é deficitária e, às vezes, dolorosa. Isso, porque a vida é incompleta, repleta de questões pendentes, cheia de coisas por fazer.
Planejar a vida deve ser o objetivo para se chegar a si mesmo, a pessoas com identidade própria, a indivíduos não massificados, ou, pode-se alternativamente, ir levando, deixando rolar, improvisando, conduzido por circunstâncias inesperadas.
Itapoá (Outono), maio de 2019.
*Inspirado no pensamento de José Ortega Y Gasset.
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