“Feio, não é bonito!”, Carlos Lyra – por Mutti Kirinus

Feio, não é bonito / O morro existe / Mas pede pra se acabar
Canta, mas canta triste / Porque tristeza é só o que se tem pra contar 
Chora, mas chora rindo/ Porque é valente E nunca se deixa quebrar 
Ah! Ama, o morro ama / Um amor aflito, um amor bonito / Que pede outra história.

Carlos Eduardo Lyra Barbosa compositor, professor de violão, que participou do surgimento da Bossa Nova, era também um cidadão politizado. Ao perceber que os governantes ao enaltecer o morro, o samba e o povo brasileiro, (assim como acontece um pouco no futebol), utilizava este elogio ao sucesso do gênero popular, nacional e internacionalmente, como ferramenta de alienação e, convencendo o senso comum que o Brasil já estava bem, escreveu por esse motivo os versos supracitados. Inspirado pelo poeta poderíamos continuar, são belos os heróis e heroínas do esporte ou da arte que apesar de tudo despontam através de esforço sobre-humano e aparecem com seu talento; mas é feio a falta de investimento nos setores. É bonito que a música brasileira tenha reconhecimento internacional; mas é feio que ela não seja valorizada (e muitas vezes nem conhecida das novas gerações) no seu próprio país. É bonito cada obra de arte que surja e eventualmente tenha o seu valor reconhecido; mas é feio que inúmeros artistas tenham que abandonar (total ou parcialmente, ou ter que buscar sustento fora do país) a profissão para não morrer de fome. É bonita toda história da arte; mas é feio que ela não seja conhecida e fomentada para a grande maioria da população, e não ser fomentado o seu conhecimento dentro das escolas para as novas gerações.

Poderíamos continuar infinitamente a continuidade desses versos de afiada consciência política. Deixo, no entanto, para você leitor, completar no seu comentário aquilo que é (ou poderia ser) bonito, mas vive uma realidade feia e que, como os versos de Carlos Lyra, pede uma outra história…

Mutti

Mutti

Helmuth A. Kirinus é mestre em Filosofia pela UFPR, formado em gestão cultural e músico. Atualmente coordena 8 projetos via lei Rouanet de incentivo à cultura e 4 via Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura de Joinville. É professor de violão e coordenador da Escola de Música Tocando em Frente em Itapoá. Atua também como representante técnico do setor Comunicação e Cultura dos projetos do Ampliar pelo Porto Itapoá.

3 comentários em ““Feio, não é bonito!”, Carlos Lyra – por Mutti Kirinus

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    19 de julho de 2018 em 15:45
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    OLÁ PROFESSOR MUTTI

    NÃO SE CALE PROFESSOR, CONTINUE VERSANDO SOBRE O QUE PODE SER MUDADO E, MUDANÇAS SÓ OCORREM QUANDO CORAJOSOS (INFELIZMENTE POUCOS) FALAM.
    DÓI SABER QUE ESCRITORES,MÚSICOS,BAILARINOS, ENFIM INÚMEROS ARTISTAS TÊM QUE MENDIGAR PARA VER SUA ARTE RECONHECIDA, QUANDO NA VERDADE DEVERIA SER VALORIZADA, MUITO BEM REMUNERADA E, TRATADA ENQUANTO PROFISSÃO… PORQUE SEM ARTE O PAIS EMPOBRECE..FICA FEIO!
    MEU ABRAÇO, CARINHO E RESPEITO POR SUA LUTA E POR SUA ARTE.

    NICOLY

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    19 de julho de 2018 em 15:31
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    Que ‘bonita” poesia de Carlos Eduardo Lyra Barbosa…
    E que bonito um ser especial como o senhor professor Mutti se “importar”.
    E que feio tantos, que podem tanto nem ligar…
    Mas, o “bonito” é que sou sua aluna e tenho tanto a aprender e, o mais “bonito” que o senhor tem tanto pra ensinar. abraços da Luise.

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    19 de julho de 2018 em 15:06
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    Querido professor, escritor e amigo da arte e do compromisso com o futuro desse país. O senhor na sua generosidade nos aponta através dos seus atos: O belo da esperança e da fé no amanhã. Torna-se uma espécie de cortina, que quase me impede de ver o feio, pois o senhor consegue tornar o feio no mais belo dos belos…
    Mas seu artigo também vem me lembrar que a “máquina política” além de indiferente a tudo que envolve políticas sociais efetivas, também é displicente quando o assunto é arte e, muito triste percebo o quanto isso realmente é “feio”. E vale lembrar que a arte tira a criança da rua, da alienação dos computadores, aumenta a autoestima e, coloca a criança num convívio social saudável e necessário ao seu bom desenvolvimento enquanto cidadã. Que a “máquina política” professor, infelizmente é indiferente a tudo isso, é notório…
    Mas, professor e as grandes empresas? Os empresários? Que pensam desse descaso? Dessa feiura? Que “sementes do amanhã” pretendem deixar para este país? Qual a contribuição para garantir que a criança tenha esse “direito”?
    Mas, não pare, continue sua luta guerreiro, são pessoas como o senhor que manterá viva nossa esperança… (E isso é muito bonito!)

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