Luana Grabias: de Itapoá para a Seleção Brasileira Sub-20
Na manhã do último dia 04 de julho, o técnico da seleção Brasileira Feminina Sub-20, Doriva Bueno, anuncio a lista de atletas convocadas para a preparação de mais uma etapa de trabalhos visando o Sul Americano de 2018, que é a competição classificatória para a Copa do Mundo da Categoria.
Luana Grabias, atacante da Adell, que foi artilheira do Mundial Escolar Feminino realizado na República Tcheca recentemente, é uma das convocadas para a Seleção. Ela deve se apresentar na Granja Comary, Centro de Treinamentos da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em Teresópolis (RJ), no dia 18 de julho, onde ficará em treinamento até o dia 30.
Luana, que também já integrou as seleções de base sub-15 e sub-17, iniciou a prática esportiva em Itapoá no ano de 2006, com apenas seis anos de idade. Hoje, aos 17, coleciona dezenas de conquistas coletivas e individuais, como os diversos títulos em torneios escolares, estaduais, aprovações em seletivas de grandes clubes, artilharias de competições e título de melhor atleta. “É muito importante para uma atleta, ter conquistas individuais, quais tenho orgulho em dizer que sou artilheira do Brasileiro e do Mundial Escolar. É válido lembrar que só consegui esse mérito de artilheira, porque meu time é muito eficiente desde a goleira até o ataque. Sem minhas companheiras de time, eu jamais teria a bola em meus pés para empurrar para dentro do gol. Em qualidade, hoje meu time, sem dúvidas, é o melhor do Brasil. Então, em relação a escolha do clube, eu fiz o certo, pois tive outros convites e escolhi jogar pela Adell. Fui muito feliz com a minha escolha”, garante.
Nascida em São José dos Pinhais (PR) no ano de 2000, Luana veio morar em Itapoá com apenas um ano de idade. Viveu no Município até fevereiro de 2013, quando voltou a sua cidade natal para poder treinar todos os dias. Ela havia passado o ano de 2012 inteiro treinando apenas uma vez por semana, devido a distância entre Itapoá e Curitiba(PR), onde treinava.
A atleta descobriu o futebol em família. “Minhas irmãs já jogavam bola e minha família, por parte de pai, é do esporte. Então, nasci com o esporte no sangue. Em Itapoá, eu só queria jogar bola na Educação Física e frequentava o ‘projeto Segundo Tempo’. Basicamente, foi lá que descobri que era isso mesmo que queria. Amava ir para jogar futebol. Na Educação Física do colégio, eu brigava, porque queria jogar. Eu cresci pedindo para jogar bola em todo lugar que ia. Jogava descalça na quadra do colégio, queimava a sola do pé por causa do sol quente, mas jogava. Quando tinha uns 5 ou 6 anos de idade, eu chorava pedindo para minha professora Elenice me colocar para jogar bola com os meninos que estudavam comigo. Ela foi a primeira professora que eu tive, que me colocou pra jogar bola. Claro que, a partir dela, vieram muitos professores, mas que eu lembre, foi ela quem me deu as primeiras bolas”, conta. “Eu saí de Itapoá justamente pra poder treinar. Pois por mais que o Município tenha me acolhido no esporte, eu estava evoluindo muito e tinha que sair dali para que continuasse crescendo. Junto com meus pais, optamos em nos mudar para que eu jogasse em um time melhor, um time que tivesse frequência de treinamentos e jogos. E para que meu irmão pudesse estudar. Hoje, estou em um grande time e meu irmão quase terminando a faculdade. Graças a Deus, tivemos as decisões certas e meus pais se orgulham por meu irmão e eu termos nos dado bem no que escolhemos para nossas vidas”, completa.
Luana também explica como surgiu a vontade de se profissionalizar no esporte. “A partir do momento que você percebe que está tendo sucesso naquilo que está fazendo, é porque está fazendo bem feito. A partir do momento que comecei a me glorificar pelo futebol, eu vi que quanto mais eu jogava, mais feliz eu ficava. Escolhi o futebol como profissão, porque é o que me faz acordar cedo no domingo sorrindo porque vou jogar. A partir do momento que você não faz isso por amor, é porque você não está mais no lugar certo e, graças a Deus, esse amor não me falta. O sucesso com meu trabalho está cada dia aumentando mais. Claro que treinei muito pra estar onde estou hoje, mas é assim que evoluímos, com muito trabalho e dedicação. Quanto mais você evolui, mais você tem certeza de que está no lugar certo, fazendo a coisa certa. Até que eu tenha esse amor, até que eu seja glorificada com o futebol, tenho certeza de que quero isso como profissão”.
Especificamente, sobre a recente convocação para a Seleção Brasileira Sub-20, Luana comenta a emoção que sentiu. “Não tem nada melhor do que ler seu nome na lista de convocação. É algo tão gratificante, mas tão gratificante, que você para e pensa ‘poxa, eu realmente estou no caminho certo, eu realmente estou no lugar certo e meu trabalho está sendo reconhecido’. Não tem nada mais grandioso do que poder representar meu país, minha pátria. Joguei o Mundial Escolar, representando o Brasil. Bati no peito e expus que tinha orgulho de ser brasileira, isso jogando pelo Colégio. Imagine agora que tenho chance de jogar um Sul Americano representando o Brasil. Tenho o sangue no olho de todo brasileiro, tenho raça e orgulho de ter nascido aqui. E se Deus quiser, dessa vez, vou me manter nas convocações e, quem sabe, em fevereiro de 2018, eu estarei vestindo a amarelinha, podendo representar meu País para o mundo. É uma honra sem igual, é meu trabalho. Estou no auge do que tem no futebol feminino, entre as melhores do Brasil. Isso é muito gratificante, porque você já se machucou, já treinou até não aguentar mais pra estar lá. E, hoje, estar lá é porque tudo valeu a pena”, considera.
Infelizmente, nem tudo são “flores” na vida das atletas do futebol feminino. Apesar de o Brasil ser o País desse Esporte, as mulheres que o praticam, diferentemente dos homens, encontram muitas dificuldades para conseguirem apoio. “Não temos apoio em competições que dão ritmo para nosso trabalho. Não temos apoio para que mantenhamos nosso time com um bom elenco, pois conforme nossa idade vai passando, precisamos ter dinheiro para poder nos manter. Qualquer adolescente da nossa idade, hoje, trabalha e tem seu dinheiro. Nós do futebol não, porque ninguém acredita, ninguém apoia. Hoje, o futebol feminino traz muito orgulho para a nação brasileira. O que precisamos fazer pra nos apoiarem? Hoje, o que eu recebo não é uma quantia que eu possa viver sem ajuda dos meus pais. Por exemplo: se eu for comprar uma chuteira pra treinar, já fico sem dinheiro pra passar o mês. Morar fora de casa é complicado, porque sua mãe não está ali do lado para comprar seu shampoo ou comprar seu iogurte de todos os dias. Se você quer, você tem que ir lá e comprar. Se você comprou a chuteira, você já não tem dinheiro pra comprar ‘besteiras’ no mercado. Aí, volto à dependência dos meus pais, que praticamente todos os meses, eles me mandam um dinheirinho a mais pra que eu possa comer uma pizza no final de semana. Detalhe que sou uma das únicas meninas da minha categoria que recebe. Se pra mim já é complicado, imagine pras outras que não recebem nem uma ajuda de custo. A gente precisa de reconhecimento, precisamos de ajuda pra que possamos evoluir ainda mais, pra que possamos manter nosso time de qualidade e reforçar com mais atletas ou reforçar com materiais de melhor qualidade e coisas desse tipo”, desabafa.
Do jornal impresso Itapoá Notícias.
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