O mar está subindo, por Werney Serafini

O relatório especial do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, sobre “impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas”, publicado no Boletim da Agencia Fapesp, destaca que o nível do mar na costa brasileira tende a aumentar nas próximas décadas.

Mais da metade da população brasileira vive em cidades costeiras, no entanto, não existe estudo sobre a vulnerabilidade dos municípios litorâneos aos impactos decorrentes das mudanças climáticas. Estudos do gênero, possibilitariam estimar futuros danos sociais, econômicos e ambientais, como também forneceriam elementos para ações preventivas.

Segundo o relatório, entre 1901 e 2010, em termos globais, o nível médio do mar aumentou 19 centímetros, apresentando variações de 17 e 21 centímetros. Entre 1993 e 2010, a elevação correspondeu a mais de 3,2 milímetros por ano, entre 2,8 e 3,6 milímetros.

No Brasil, também existe a tendência de aumento no nível do mar, porém com alto grau de incerteza, pois inexistem registros históricos contínuos e confiáveis, de acordo com os autores do relatório. Estudos regionais em algumas cidades litorâneas, constatam a elevação do nível do mar e muitas sofrem o impacto do fenômeno na forma de ressacas e inundações. Em Santa Catarina, Laguna e Florianópolis, inclusive Itapoá.

Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, foram registradas taxas de aumento do nível do mar de 1,8 a 4,2 milímetros por ano desde a década de 1940. Em Santos, no litoral paulista, onde se encontra o maior porto da América Latina, o nível do mar aumenta 1,2 milímetros ao ano, desde a década de 1940. Ocorreu, também, aumento expressivo na altura das ondas que de 1 metro em 1957 chegou a 1,3 metros em 2002, aumentando a frequência das ressacas no Município.

No Rio de Janeiro, informações obtidas na estação maregráfica da Ilha Fiscal, na Baia da Guanabara, mostram tendência média de aumento de 1,3 milímetros por ano, conforme dados coletados mensalmente de 1963 a 2011.

No Recife, o nível do mar aumentou 5,6 milímetros entre 1946 e 1988, correspondendo a uma elevação de 24 centímetros em 42 anos. A erosão provocou redução da linha de praia em mais de 20 metros na praia de Boa Viagem.

Para os autores do relatório, as mudanças climáticas e a elevação do nível do mar, podem causar sérios impactos nas áreas costeiras do Brasil. Entre esses impactos, o aumento da erosão costeira, a frequência e intensidade das inundações, a vulnerabilidade das pessoas e a redução dos espaços habitáveis.

As projeções do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, indicam que a elevação do nível do mar, globalmente, deve variar entre 0,26 e 0,98 metros até 2100 e apresenta estimativas similares para a costa brasileira.

As inundações costeiras serão mais preocupantes no litoral do Nordeste, Sul e Sudeste e a combinação da elevação do mar com tempestades e ventos fortes poderá provocar danos substanciais na infraestrutura das cidades localizadas a beira mar.

O relatório dá destaque ao Plano Municipal de Adaptação à Mudança Climática da cidade de Santos no litoral de São Paulo, como exemplo de plano de ação para a adaptação às mudanças de clima. Estudo internacional estimou que eventuais inundações nas áreas costeiras locais poderão causar prejuízos acumulados na ordem de R$ 2 bilhões até 2100 se não forem tomadas medidas de adaptação.

O estudo foi realizado por pesquisadores do Cemadem, dos Institutos Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Geológico (IG) e das Universidades de São Paulo (USPE) e Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com pesquisadores da University of South Florida, dos Estados Unidos, do King’s College London, da Inglaterra e técnicos da Prefeitura de Santos.

O quadro apresentado pelo relatório, aponta claramente para a necessidade de se tratar a erosão costeira não mais como fenômeno estritamente pontual e esporádico, mas como assunto preocupante e de caráter permanente.

Itapoá (inverno), junho de 2017.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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