Uma cidade comestível, por Werney Serafini

No interior da Inglaterra, Todmorden, uma pequena cidade, fornece verduras para seus habitantes, durante o ano todo.

Tudo começou com o projeto “The Incredible Edible Todmorden” (“A incrivelmente comestível Todmorden”), que consiste no cultivo de hortas comunitárias em espaços públicos da cidade. Os vegetais produzidos são disponibilizados gratuitamente para qualquer morador.

Mais de 40 locais na cidade, das floreiras nas ruas, ao quintal da delegacia de polícia, jardins públicos, pátios de escolas, centros de saúde e até o cemitério local. Como objetivo incentivar a comunidade a cultivar os seus próprios alimentos e sensibilizar as pessoas sobre os recursos que consomem.

O projeto levou dois anos para ‘pegar’. Na reunião de apresentação eram apenas seis pessoas. Agora é aceito por grande parte dos moradores e é divulgado nas escolas da cidade. A prática da horticultura, além de proporcionar alimentos saudáveis, aproximou as pessoas e melhorou o relacionamento entre vizinhos.

As pessoas querem ações positivas nas quais possam se engajar e têm consciência de que o momento requer a responsabilidade de todos para obter qualidade de vida, relacionamento, alimentação segura e respeito ao meio ambiente.

Transformar espaço público em hortas comunitárias não é tarefa fácil. Mas, em Todmorden, o comprometimento dos gestores públicos e a dedicação dos moradores, tornou isso possível.

Ao tomar conhecimento, foi inevitável imaginar algo semelhante acontecendo em Itapoá. Claro que em consonância com as condições locais. Afinal, não estamos na Inglaterra e não seria possível transformar uma cidade litorânea extensa como a nossa, em uma grande horta comunitária. Mas, existem espaços vazios nas escolas e por que não nesses locais?

Educadores reconhecem que a horta escolar tem se mostrado um instrumento eficaz na educação dos jovens, estimulando o hábito da alimentação saudável e equilibrada, além do sentido planetário da responsabilidade humana com o meio ambiente.

Algumas escolas em Itapoá desenvolveram ou desenvolvem, isoladamente, pequenas hortas que poderiam ser multiplicadas e ampliadas. No entanto, o ‘calcanhar de Aquiles’ desse tipo de projeto parece estar na ‘terceirização’ da horta para os alunos e professores. A horticultura exige conhecimento técnico, experiência e dedicação exclusiva para ser produtiva. Não é todo professor que está capacitado ou mesmo, aprecia a atividade. O objetivo primeiro é ministrar aulas, não cuidar de hortas. Por essa razão, muitos projetos semelhantes tem duração efêmera e acabam não dando certo.

Uma alternativa poderia ser a construção de um projeto envolvendo a Secretaria de Educação, a Secretaria de Agricultura e o escritório local da Epagri. Caberia à Secretaria de Educação, disponibilizar o espaço nas escolas e cuidar da orientação pedagógica; a Secretaria de Agricultura, da operacionalização do projeto, disponibilizando um profissional treinado para a formação e manutenção da horta e; o escritório da Epagri do fornecimento de mudas e sementes e a necessária orientação técnica.

As hortaliças produzidas seriam fornecidas, prioritariamente, a merenda escolar e, o excedente, gratuitamente, às famílias dos alunos, contribuindo para uma alimentação saudável, baseada no consumo de verduras frescas e sem agrotóxicos.

Quem sabe, embrião de uma incrivelmente comestível Itapoá.

Itapoá (verão), 2017.

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Werney

Werney Serafini é presidente da Adea – Associação de Defesa e Educação Ambiental. Acredita no desenvolvimento de Itapoá com a observância de critérios ambientalmente adequados.

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