A discussão sobre o gosto é um tema abordado pela filosofia desde Aristóteles, e dentro das disciplinas abordadas por ela é conhecida como Estética. Ou seja, o gosto a partir de 300 anos antes de Cristo não só é discutível como, desde então, foi amplamente discutido. Essas reflexões presentes na filosofia têm a sua essência na pergunta: o que faz uma obra de arte ser uma obra de arte? Em outras palavras, parafraseando nosso querido poeta gaúcho Mário Quintana, no âmbito da literatura, a pergunta é: o que faz um poema ser verdadeiramente um poema e não um simples chocalho de palavras? A resposta de Mário Quintana é quase socrática: um verdadeiro poema, para ser um verdadeiro poema, deve te ensinar a viver e preparar-te para a morte, caso contrário, não passa de um chocalho de palavras.
O que acontece é que diante do imediatismo presente na sociedade de consumo moderna, ‘refletir’ é algo muito trabalhoso e demorado. Para isso, é necessário buscar e ampliar as referências, fazer comparações, sentir, pensar, e até fazer uma interpretação pessoal sobre o sentido que aquela obra traz para sua vida. Já na primeira metade do séc. XX, outro poeta vaticinou ‘o homem moderno não se ocupa mais de nada que não possa ser abreviado.’ (Paul Valéry). Por isso, o simplesmente gostar ou não, sem refletir e sem discussão, é a alternativa mais comum. E os exemplares de gêneros artísticos, não necessariamente sempre ‘obras de arte’, ganharam a função de puro entretenimento.
No entanto, segundo o poeta gaúcho, a arte tem uma relação profunda com o aprender a viver. Consequentemente, com o viver melhor e tão pleno de sentido que se possa esperar o fim sem arrependimento. Talvez, esse seja o significado da preparação para a morte socrática. Paradoxalmente, justamente porque a vida é breve, que se deve dedicar um tempo para buscar, conhecer mais profundamente, refletir, escolher, e até (por que não?) ser protagonista de momentos de expressão artística.
A primeira discussão sobre a função da arte feita por Aristóteles foi justamente essa. Através da experiência estética, vivendo através da imaginação no teatro grego, os sucessos e infortúnios do herói, ocorre uma elevação, purificação e preparação do espírito através desta experiência. Enfim, amplia-se com a arte, a experiência humana através da ficção, do verossímil, do não vivido, mas simplesmente possível. E ela o faz muitas vezes, de uma forma que a própria vida, na maior parte das vezes, presa a rotinas e banalidades, não poderia fazê-lo. Entende-se, por isso, a frase do poeta Ferreira Gular quando, esse diz que ‘a arte existe, porque a vida não basta.’ Ou quando o prêmio nobel de Literatura Issac Bashevis Singer diz que na literatura ‘o extraordinário é a regra!’. Nesse ponto, inverte-se o papel em que a arte não apenas imitaria a vida, mas passa a ser mestre da mesma, não mais simples criatura, mas doadora de sentidos. O sentimento proporcionado por um poema, uma melodia, uma narrativa, por cores e formas, quando alcançam o patamar de obra de arte, cumprem este mesmo objetivo. Com a alma ampliada através da arte, busca-se satisfazer o insaciável desejo presente em uma definição de Filosofia de Merleau-Ponty: ‘Filosofia é a vontade de estar em toda parte como em sua própria Casa.’
Se a arte e o prazer estético tem esse papel tão importante, porque não refletir e discutir sobre seus objetos e, a partir daí, fazer suas escolhas. Em meu trabalho de educação musical infantil, vi muitas vezes crianças bem pequenas repetirem frases musicais que, além de estarem muito longe de serem poéticas, como definiu Mário Quintana, não faziam o menor sentido para aquela idade, pelo excesso de erotização presente na letra. Se a arte é doadora de sentidos, vale muito a pena refletir e aprofundar essa escolha para além do seu valor comercial, dos caprichos da moda, ou prazer sensitivo imediato. Enfim, quando a arte deixar de ser vista como mero entretenimento, futilidade, deleite, ociosidade, será um sinal de que o Ser Humano está começando a se levar a sério.
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